Desde a final da Copa Libertadores da América, em novembro do ano passado, Andreas Pereira tem sido alvo de críticas da torcida do Flamengo. Essa perseguição por parte dos rubro-negros parece afetar diretamente o desempenho do meio-campista e, mais do que isso, deixa em evidência a discussão sobre saúde mental no esporte, cada vez mais comum.
Ano passado, na decisão contra o Palmeiras, o atleta falhou no lance que resultou no gol do título do adversário. Contra o Vasco da Gama, no último jogo da equipe carioca, voltou a errar e os torcedores não pouparam os xingamentos das arquibancadas no estádio Nilton Santos.
Apesar da vitória diante do arquirrival, por 2-1, no último domingo (6), Andreas não foi poupado das vaias quando foi substituído e ao final da partida, por isso teve de sair de campo abraçado pelo técnico Paulo Sousa. Desde o início da temporada, o meia tem oscilado nas atuações e hoje não é visto com unanimidade pelos torcedores. Outro questionamento que pautou discussão nas redes sociais, após nova falha do atleta, é se o clube deveria ou não fazer o investimento de 10 milhões de euros pela contratação em definitivo do jogador que ainda pertence ao Manchester United.
Todos esses fatores parecem mexer com a cabeça de Andreas. O histórico de falhas em partidas importantes somada a pressão da torcida são pontos que estão desestabilizando o jogador. Todo esse contexto o envolve só reforça a importância do trabalho psicológico com os atletas no dia a dia.
O tabu sobre discutir assuntos mais delicados, como depressão e ansiedade no esporte, parece em desconstrução nos últimos anos. Liana Benício, psicóloga do Fortaleza, acredita que o cuidado com a saúde mental e bem-estar dos atletas seja uma tendência.
“Entendo que isso tem a ver com o desenvolvimento cultural, porém é apenas questão de tempo. Estamos conseguindo quebrar muitas barreiras”, iniciou Liana. “Assim como ocorre no Fortaleza, é importante a preocupação de outros clubes do Brasil e do exterior, para que os departamentos de psicologia no futebol estejam cada vez mais desenvolvidos”, concluiu
Em outras modalidades, a psicologia no esporte também enfrenta alguns preconceitos. Claudio Godoi, especialista em Psicologia Esportiva para Esportes Eletrônicos e em ansiedade pela Faculdade de Medicina da USP, que atua na Team Liquid, uma das principais equipes de Rainbow Six do país, reforça a importância da população buscar a conscientização sobre este assunto.
“A ansiedade em si, diferente do que muitos pensam, não é uma doença, mas sim uma reação comum. É um fator natural do ser humano, que, inclusive, precisamos, porque dispara os alertas para estarmos focados em alguma atividade. O que não podemos é deixar virar um problema, pois ela se acumula como uma bola de neve e, aí sim, acaba se transformando em um transtorno para a sua vida”, explicou.
Júnior Chávare, executivo de futebol, com passagem por Bahia, Atlético-MG , São Paulo, Grêmio e Juventus, entende que o dirigente precisa ter a convicção de que é necessário um contato mais próximo com o jogador para compreender o que o mesmo está passando.
“Muitas vezes ficamos presos somente à questão do “hoje”, da pressão midiática e da torcida, mas o jogador tem inúmeros outros problemas, como pressões familiares e comportamentais que, muitas vezes, sequer chegam ao público. Isso pode ser um agente catalisador para que os problemas se potencializem e sejam traduzidos dentro de campo, em dificuldades técnicas, que resultarão em mais cobranças ainda”, pontuou.
Retirado de: UOL
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