Corinthians x Flamengo: Foi pênalti de Léo Pereira? Entenda como funciona a regra de toque de mão no futebol

Cabine do VAR no Maracanã (Foto: Dhavid Normando/Futura Press)

Um dos lances mais polêmicos do futebol, a infração por toque de mão voltou à tona na final da Copa do Brasil entre Corinthians e Flamengo (0 a 0) e gerou calorosas discussões e memes nas redes sociais. Nesta quarta-feira, o lance em questão envolveu o zagueiro Léo Pereira. Após um cruzamento de Matheus Vital, a bola tocou na mão do defensor. O árbitro Bráulio da Silva Machado mandou o jogo seguir após o VAR considerar desnecessária revisão do lance.

A CBF defendeu a decisão da arbitragem e afirmou que de acordo com as regras do jogo, o lance surpreendeu o defensor, que tinha seu braço em posição natural. Além disso, a confederação divulgou na tarde desta quinta-feira os áudios da comunicação entre a cabine do VAR e o árbitro da partida.

— Braulio, já checado. A bola desvia na barriga dele e vai para o braço, está em ação de disputa, tá? Bate na barriga dele e vai para o braço, pode seguir.

A decisão irritou os corintianos, mas não foi consenso mesmo entre comentaristas de arbitragens, que analisaram a jogada de maneiras distintas. Como o próprio regulamento aponta, o árbitro é responsável pelo julgamento se o jogador fez ou não um movimento anti-natural com o braço. Ou seja, a avaliação é totalmente interpretativa.

A regra, que é costumeiramente modificada no regulamento do jogo, tende a confundir aqueles que não estão atualizados sobre as últimas resoluções.

Quem apita — no sentido figurado da palavra — nas regras sobre o assunto, bem como de todas as outras regras do esporte, é a International Football Association Board (IFAB), órgão independente da Fifa fundado em 1886. Além da própria Fifa, que tem poder de voto de 50%, fazem parte do corpo da IFAB as federações dos países britânicos (Inglaterra, Gales, Irlanda e Irlanda do Norte), dada a origem do futebol.

As recomendações sobre toques de mão integram um item da regra 12 do manual do jogo, que fala sobre faltas e má conduta. Na 135ª reunião anual do órgão, em março do ano passado, o item ganhou atenção especial. O órgão considerou que várias marcações vinham sendo feitas de forma errônea, atualizou a regra e fez um comunicado aos corpos de arbitragem mundial.

“Como a interpretação de incidentes de toques na mão nem sempre foi consistente dadas as aplicações incorretas da regra, os membros confirmam que nem todo toque no braço ou na mão é uma infração. Em termos de critério, se o braço ou a mão de um jogador torna seu corpo “maior” de forma anti-natural, confirmamos que os árbitros devem continuar a usar seu julgamento para determinar a validade da posição da mão ou braço em relação ao movimento específico do jogador naquela situação”, diz a nota da época.

As recomendações são curtas e preveem três tipos de infração: toques deliberados com o braço/mão na bola, toques no braço/mão quando o jogador os usa para aumentar o volume do corpo em movimento anti-natural (julgados assim pelo árbitro) e gols marcados com a mão ou após o toque de mão do marcador, mesmo que acidental. Por outro lado, a última atualização da regra desqualificou como infração uma situação de gol em que haja toque acidental antes da bola chegar ao marcador do tento.

Aplicação é complexa

O comentarista de arbitragem e ex-árbitro do quadro da Fifa Salvio Spinola, que na transmissão da TV Globo não considerou pênalti, explica que a principal mudança na regra nos últimos anos anos foi a troca entre duas palavras-chave: o toque de bola intencional virou toque de bola deliberado, ou seja, o risco assumido pelo jogador em seus movimentos na jogada:

— É uma regra simples, mas de difícil interpretação e implementação na dinâmica do jogo. No passado, a regra falava em tocar a mão na bola de forma intencional, então o árbitro tinha que julgar a intenção do jogador. Depois ela foi alterada para deliberada. São duas palavras-chave que temos que contextualizar.

Quanto aos toques de mão que acontecem após o toque em parte do corpo, Salvio explica que as marcações variam e devem ser baseadas na avaliação dos movimentos.

— Não tem verdade absoluta. A regra não é tão fácil, bateu no corpo, tem que marcar. A batida no corpo não elimina a possibilidade da mão. Depende da força da bola, da forma. Existe um termo que é muito usado na regra, o movimento adicional. Se o jogador faz um movimento desnecessário para aquele momento, mesmo que tenha batido na perna, o juiz vai ter que marcar.

E o VAR?

O ex-árbitro diz ainda que a Fifa tem tentado diminuir o número de marcações por toque de mão após várias polêmicas sobre o assunto nos últimos anos. Ele destaca a importância do uso do VAR, a arbitragem de vídeo, como ferramenta complementar ao árbitro de campo. A interação, ressalta, deve ser a de recomendação da sala do VAR pela ida ao monitor para o árbitro caso seja identificado um possível toque de mão não observado em campo. Caso o juiz tenha observado o lance e não tenha julgado como infração, o jogo segue:

— O árbitro não vê o ponto de contato da bola no corpo e do pé do adversário (em lances de falta). No VAR, a prioridade é ponto de contato. Naquele momento de velocidade, o árbitro não vê. Em campo, ele não olha com uma visão fechada (no lance em questão). Ele tem a visão ampla.

Retirado de: Extra