A segunda derrota seguida em clássicos e a sequência de quatro jogos decisivos sem a conquista de títulos pressionam como nunca o trabalho do técnico Vítor Pereira no Flamengo. A ponto de as escolhas antes, durante e depois do jogo com o Fluminense terem iniciado um processo de fritura.
Desde os gritos de “burro” vindos da arquibancada do Maracanã, até impressões de quem vive a política do clube, o atestado é de que o treinador precisa sair para os resultados voltarem. Mas internamente, ainda há mobilização em cima do trabalho desenvolvido até aqui.
O que, então, é verdade sobre a crise que paira sobre o técnico Vítor Pereira?
Relação com jogadores
A decisão do treinador de modificar o time para o jogo com o Fluminense não surpreendeu os atletas de forma negativa. Houve treinamento na terça-feira para esboçar a equipe e indicar as mudanças. Como em todo jogo, Vítor Pereira confirma o time que vai jogar apenas horas antes de a bola rolar, no vídeo que passa após o almoço na concentração. Mesmo com as trocas antes e durante a partida, o comportamento dos jogadores foi de apoio ao modelo de jogo implementado. Medalhões da equipe, Gabigol e Arrascaeta foram substituídos no fim e não esboçaram qualquer reação de insatisfação. No vestiário após a partida e no dia a dia, também há entre os atletas o entendimento de que o trabalho tem elementos bons, e que precisa de tempo para se consolidar.
Situação do DM e preparação física
Há uma série de jogadores desgastados no elenco rubro-negros. Alguns deles viraram baixas por lesão, outros são dosados para que estejam inteiros e desempenhem o que Vítor Pereira deseja. Contra o Fluminense, ficaram de fora David Luiz, Thiago Maia e Bruno Henrique, em recuperação. Pedro treinou uma vez e foi relacionado após sentir dores na coxa, mas não estava 100%. O mesmo vale para o lateral Varela, com uma lesão no púbis, e que só estava no banco pois não havia outro lateral do profissional para relacionar. Na coletiva, Vítor Pereira questionou a falta de soluções nesse sentido para ter a equipe mais fresca, e a sequência recente de jogos foi apontada como justificativa para mexer no time. O preparador físico Mario Monteiro estava na sala para referendar as reclamações.
Respaldo da diretoria
Não há declarações públicas dos responsáveis pelo futebol do Flamengo em relação ao trabalho de Vítor Pereira. O vice de futebol Marcos Braz e o diretor Bruno Spindel se mantém reclusos no momento conturbado, e têm sido criticados dentro e fora do clube. Internamente, profissionais do departamento de futebol mantém relatos de que Vítor Pereira agrada nos trabalhos do dia a dia. A atitude de intensificar as mudanças na equipe para buscar uma maior intensidade sem perder a consistência defensiva também é vista com bons olhos. A avaliação final sobre a continuidade acontecerá após a disputa do Campeonato Carioca, mas até o momento o treinador tem apresentado coerência nas escolhas diante das peças que têm.
Insatisfação da comissão técnica
Vítor Pereira deixou claro que lhe faltam soluções para dar ao Flamengo um melhor desempenho e intensidade. Ressalta que chegou em um momento no qual não teria tempo nem condições de fazer um trabalho para que a equipe chegasse em condições mínimas de disputar os títulos do início da temporada. Fato é que VP não se vê respaldado por dirigentes, apenas por jogadores. Por notar que as lideranças dentro de campo têm mais influência do que as de fora, há uma proteção mútua e um pacto para que o trabalho evolua mesmo que os resultados não demonstrem isso.
Ambiente político
Há no Flamengo uma corrida velada pela eleição de 2024. Nela, os possíveis candidatos alinhados à situação, Rodrigo Dunshee, vice-geral, e Bap, presidente do Conselho de Administração, têm feito agenda de campanha, que torna todos os debates em relação ao futebol mais inflamados. Alguns vice-presidentes se aproveitam mais uma vez do atual momento para atingir o vice de futebol Marcos Braz com críticas ao trabalho de Vítor Pereira. A diferença de impressões entre Gávea e Ninho do Urubu é gritante em alguns pontos. O que influencia na avaliação do torcedor e dos conselheiros que acompanham a situação de longe.
Retirado de: O Globo