Ao tornar público o pedido ao técnico Vítor Pereira para voltar a atuar em sua posição de origem no Flamengo, como centroavante, Gabigol provou pela primeira vez que embora seja predestinado e tenha marcado gols em 10 finais com a camisa do clube desde 2019, não é intocável. A barração no primeiro jogo da decisão do Carioca contra o Fluminense foi um misto de opção tática, técnica e física diante da concorrência com Pedro, que tem números melhores e se encaixa mais no esquema preferido do treinador.
— No penúltimo treino falei com o Vítor que queria voltar à minha posição natural, que é centroavante. Enquanto eu pude ajudar o time um pouco mais recuado, eu ajudei. Mas com esse esquema de três zagueiros, com os times jogando mais por fora, eu optei por voltar à minha posição. E aí eu disputo com o Pedro. E ele optou pelo Pedro — revelou o ídolo e camisa 10.
Portanto, hoje Gabigol é reserva. O que não quer dizer que assim será por toda a temporada. A começar pela estreia da Libertadores, quarta-feira, contra o Aucas, na altitude do Equador. A questão é que Gabigol pode ficar fora da viagem de hoje para aprimorar a parte física no Rio, depois de um trabalho de reequilíbrio muscular em função de dores na coxa desde janeiro.
Com a intenção de fortalecer vários sistemas de jogo e privilegiar o conjunto, Vítor Pereira utilizou as últimas duas semanas de treinamento para alcançar o ápice da reestruturação do Flamengo, intensificada após a disputa da Recopa. Com tempo para preparar a equipe para a final do Estadual, aliou a condição física longe do ideal de alguns de seus principais craques, como Gabigol e Arrascaeta, para mandar a campo uma equipe mais intensa e competitiva, respeitando a característica do elenco que tem em mãos, e também a ausência de reforços.
— Nossa preocupação nesse período foi preparar todo o elenco para jogar qualquer tipo de jogo. Preparamos 23, 24 jogadores, para jogarmos com duas viagens longas, mudando sistemas. Para jogar com intensidade, pressionar alto, fazer um jogo com dinâmica, tem que ser assim. Não podemos jogar sempre com os mesmos — afirmou Pereira, deixando claro que não vai escalar jogador pelo nome.
Duelo nos números
O resultado desse planejamento foi a saída de Gabigol e a aposta em Matheus França e Everton Cebolinha próximos a Pedro, formação que na visão do técnico é mais equilibrada. A vitória sobre o Fluminense, claro, ajudou a sustentar a escolha, e a atuação de Pedro, com um gol, também.
Agora, o camisa nove tem 17 participações em gols em 13 partidas na temporada, com 14 gols e três assistências. Já Gabigol chegou a 15 jogos com nove gols marcados e uma assistência apenas.
Não só os números mais claros, mas o estilo de jogo de Pedro ajuda a explicar por que Gabigol precisará reencontrar a sua melhor versão para destroná-lo. O camisa nove é um jogador com mais recursos em jogadas pelo alto, abre espaços e faz o jogo fluir com rapidez as jogadas com passes rápidos, e não tem por característica correr muito com a bolas nos pés, o que ficou claro mais uma vez contra o Fluminense. Em outro comentário sobre o jogo, Vítor Pereira deixou escapar mais uma vez que a escolha dos atletas tem a ver com o que executam no campo, mesmo com a impressão de que o Flamengo era mais reativo e não ficava com a bola.
— Sabíamos que precisaríamos gerir, ficar sem bola e saber o momento de acelerar. Não tem a ver com o sistema, mas com os jogadores que interpretam. Característica dos jogadores que estão em campo — disse.
Diferentemente do que fez no Corinthians, Vítor Pereira não criou nenhum tipo de situação desconfortável ou cobrança a Gabigol. Valorizou o atleta e toda a sua importância para o clube, e disse contar com ele.
— Jogador fundamental, importantíssimo, capitão. Ele teve uns dias parado por conta da lesão. Cebolinha e Matheus França, para mim, iam ser importantes estrategicamente. Foi isso que entendi. A conversa com o Gabi foi tranquila, honesta — indicou o comandante.
Retirado de: O Globo