A atual diretoria do Flamengo está construindo a façanha de criar um grupo forte e destruí-lo na mesma gestão.
O investimento feito no começo do primeiro mandato de Rodolfo Landim criou uma potência no futebol sul-americano e coroou o sucesso da equipe com diversos títulos nacionais e continentais. Em seguida, os mesmos dirigentes que colocaram o grupo na primeira prateleira dos clubes do continente, contribuíram majoritariamente para a queda de rendimento do time que tem em mãos.
O cenário evidentemente é incômodo não somente para a massa de torcedores, mas também internamente. Os grupos de oposição do Flamengo publicaram uma carta detonando a condução do clube no presente momento e apontando o amadorismo no comando das pastas.
Leia a carta na íntegra:
O futebol brasileiro está mudando e nós, rubro-negros atuantes na Gávea, no Maracanã e além, afirmamos: o Flamengo não está pronto para os desafios postos por uma nova realidade.
Os pares do Flamengo já viram o relógio correndo, e estão jogando o peso do amadorismo para fora do barco. Enquanto isso, a memória recente de êxitos esportivos nos atira à mesma complacência que minou o presente e compromete o futuro de gigantes do futebol brasileiro e mundial. Sabemos o preço. Lá atrás, essa complacência nos adiou por quase quarenta anos o bicampeonato da Libertadores da América. A torcida não tolera um Flamengo complacente, nem um Flamengo sem confiança para mudar.
Hoje, o Estatuto Social do Flamengo segue tratando o futebol como assunto de amadores. Nove décadas depois da encruzilhada pela qual nos guiou o gênio de José Bastos Padilha, estamos novamente diante do desafio entre crescer ou estagnar. Naquele momento histórico, a aposta na grandeza passou pela profissionalização do vestiário, da porta para dentro. Mas paramos no tempo, e, agora, a mesma solução se impõe do vestiário para fora e para cima, ao longo de toda a cadeia de gestão, da qual devem sumir os amadores.
Quando deveríamos hoje contemplar o Flamengo do amanhã, testemunhamos uma manobra de prorrogação de mandato. Esse movimento vai na contramão da tradição democrática do Clube, que é uma das fontes de nossa grandeza. No vaivém secular entre situação, oposição e independentes, nenhum presidente de poder nunca deixou de ser alvo de crítica construtiva no Flamengo. Não será diferente em 2023, 2024 ou em qualquer outro momento adiante. Em vez de golpe, propomos uma verdadeira reforma institucional.
O futuro do Flamengo depende de um novo foco na governança – a começar pelo futebol – e na blindagem do processo político-eleitoral contra o casuísmo e a concentração de poder. Para isso, precisa trazer à mesa profissionais engajados em equipar o Clube para o que vem adiante. Os signatários desta carta farão a sua parte, dando condições de trabalho a esses especialistas para redesenharem as disposições de nosso Estatuto no que se aplique a governança e futebol. Contamos com os presidentes e vice-presidentes de poderes para abrir a porta e analisar de forma detida a proposta de modernização que será submetida aos poderes constituídos do Clube. O futuro já está ali fora, e o Flamengo não pode esperar.