“Pode pagar no PIX?” Um pergunta que hoje faz parte da rotina do brasileiro desencadeou uma denúncia de assédio moral contra Guilherme Kroll, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo. Ele é acusado de ter exigido a demissão de uma funcionária da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), alegando que é o Flamengo quem “banca” o esporte brasileiro. Ele confirma que se exaltou, mas nega as acusações.
O caso aconteceu no Campeonato Brasileiro de Nado Artístico, há um mês, no Rio de Janeiro. Das 15 provas das quais participou, o Flamengo venceu 14, sempre com enorme vantagem sobre qualquer rival. Mas, no júnior, o Tijuca achou uma brecha no regulamento para ser campeão, inscrevendo duas equipes na prova de conjunto. Uma foi bronze e a outra terminou em quinto e último lugar, mas somando muitos pontos.
O Flamengo, que só teve um conjunto júnior, tentou entrar com um protesto reclamando que essa segunda equipe do Tijuca, por não se apresentar na prova acrobática, uma das três que compõem a competição, não poderia ganhar pontos. Mas a árbitra geral da competição, Ana Carolina Siqueira, exigiu que o pagamento do protesto, de R$ 200, fosse feito em dinheiro vivo, enquanto Kroll queria fazer um PIX.
O dirigente flamenguista se revoltou, alegando que outras taxas foram pagas no PIX e que a dificuldade estava sendo criada por Ana Carolina por ela ser técnica da equipe do Tijuca.
“No momento em que há uma duvida, um recurso contra mim, eu tenho de me declarar impedido. A pessoa que julga não pode ser a pessoa que é julgada”, disse Kroll à coluna.
De acordo com a ata da competição, o rubro-negro passou a cobrar a supervisora de nado artístico da CBDA, Juliana Dias, se dirigindo a ela “de forma agressiva, exaltada e desrespeitosa, chamando a atenção de todos os presentes na competição”. Ele afirmou que “o Flamengo é quem banca o esporte nacional”, e que “o Flamengo é a elite do esporte nacional”. Quando um dirigente do Tijuca entrou na discussão, Kroll gritou que “isso aqui não é favela” e ressaltou que “o Flamengo não é um clubezinho de merda”.
Ainda segundo a ata, que faz parte da denúncia contra Kroll no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) da CBDA, o dirigente pediu que as pessoas lembrassem de seu nome e disse que exigia que Juliana fosse demitida.
“Repetiu essa declaração por diversas vezes, aos gritos e gestos corporais, enfatizando assédio moral à supervisora de nado artístico da CBDA, que em nenhum momento respondeu as injúrias e ofensas, demonstrando-se visivelmente abalada e constrangida”, diz o documento. Pessoas que estavam no evento confirmaram o relato à coluna.
O Olhar Olímpico tentou falar com Juliana no dia seguinte ao ocorrido, mas ela alegou que estava abalada psicologicamente e que, por isso, não gostaria de dar entrevista. A maior parte das atletas que compõem a seleção brasileira de nado artístico defende o Flamengo, inclusive o dueto que vai o Mundial de Fukuoka no mês que vem.
Kroll confirmou que se exaltou, mas negou que tenha utilizado esses termos. “O ofendido era o Flamengo, que estava tendo o seu PIX recusado pela arbitragem da competição. Eu estava me sentindo mais que ofendido. Sou casca grossa e não vai ser o nado artístico que vai me tirar do sério, mas eu precisava que o recurso fosse aceito. Eu estava brigando para que o assunto fosse aceito”, afirmou ao Olhar Olímpico.
No fim das contas, a cantina do Parque Aquático Julio Delamare serviu de caixa eletrônico, deu R$ 200 em dinheiro ao Flamengo em troca de um PIX no mesmo valor. O protesto foi aceito pela arbitragem, que o negou, mantendo o título com o Tijuca.
Kroll foi denunciado no artigo 243 F do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (STJD), que prevê multa até R$ 100 mil e suspensão de até 90 dias. O caso será julgado amanhã (28).
O vice-presidente do Flamengo já provocou o fim da relação entre a Liga Nacional de Basquete, que organiza o NBB, e a Confederação Brasileira de Basquete (CBB), em episódio semelhante. Ele proferiu diversas ofensas contra um membro do STJD, após seu clube perder a final do NBB 2021/22, e ser multado em R$ 10 mil.
Para Kroll se livrar da pena, o Flamengo acionou o STJD da CBB alegando que os recursos contra a decisão deveriam ser remetidos àquele órgão, não ao Pleno do STJD do NBB, que não tinha legitimidade. Era a brecha que a CBB queria para, com o apoio do Flamengo, romper relações com a liga, citando essa discussão sobre a esfera recursal. Todos os clubes do NBB ficaram ao lado.
Retirado de: Uol