Ao apontar uma carência do Flamengo por mais reforços, o técnico Jorge Sampaoli repetiu um comportamento comum a ele e resgatou no torcedor a memória de seus dois outros trabalhos no Brasil, por Santos e Atlético-MG. Se no rubro-negro o principal pedido é por um meio-campista, nestes clubes houve cobrança por reforços e de salários atrasados e até críticas à base. O GLOBO relembra, abaixo, algumas destas polêmicas.
Seu primeiro trabalho no Brasil ficou marcado tanto pelo bom futebol apresentado em campo e pelo segundo lugar no Brasileiro de 2019 quanto pelos choques entre técnico e direção. Sampaoli não se cansou de cobrar o clube por reforços. Inclusive publicamente, como ocorreu quando ele reclamou da falta de um centroavante.
“Sempre joguei com um centroavante. Saber se deslocar na área é específico de uma posição. Com tantos cruzamentos em casa jogo, com uma pessoa que se mova bem e entenda bem a leitura da partida, seguramente converteríamos muitos mais gols. Fazemos poucos gols pelo que produzimos.”
A cobrança por um elenco mais qualificado acompanhou toda a passagem do argentino pela Vila Belmiro. Ao deixar o clube, no fim da temporada, ele não escondeu que isso pesou para sua decisão. Ele chegou a citar o Flamengo, clube em que viria a trabalhar quatro anos depois, como parâmetro.
Não chegamos nem a um acordo econômico nem sobre as posturas esportivas. O Brasil é um país muito exigente, o Flamengo avançou muito na comparação com os demais, e minha ideia de ficar no país era para brigar pelo Campeonato Brasileiro. Isso não aconteceu.
Mas as queixas não se limitaram a este assunto. Sampaoli também criticou publicamente o trabalho nas categorias de base do Santos. Ele o fez quando questionado sobre o baixo aproveitamento das revelações do clube na equipe principal.
“Santos tem que reestruturar sua força básica com os menores. Produtividade do sub-20 e sub-23 não é boa. E não há jogadores destacados nas divisões. Ou pelo menos não estão se destacando. Se faz cinco gols no sub-20, teria que revisar o motivo de eu não utilizar.”
Durante a pausa para a Copa América de 2019, enviou um e-mail ao então presidente José Carlos Peres cobrando a dívida de três meses de direitos de imagem dos atletas, a falta de pagamento das premiações, entre outros pontos. O dirigente prometeu honrar os compromissos. Antes mesmo desta cobrança, ele já havia abordado este assunto publicamente.
“A condição financeira do clube não tenho motivo para saber. Cheguei com o conhecimento do elenco, da necessidade que tinha, da necessidade da equipe. É uma realidade que o clube tinha que resolver. Santos é um clube de grande história, e o clube tem que estar à altura, os dirigentes também.”
Sampaoli assumiu o Atlético-MG em 2020. Por causa da pandemia de Covid-19, a maior parte de sua passagem ocorreu num contexto de poucas entrevistas coletivas. Como o controle era maior, as perguntas também passaram por um filtro maior dos clubes. Por isso, o argentino deu menos declarações do tipo. Mas elas ocorreram.
“Nós falamos o tempo inteiro com a diretoria, o presidente, com as pessoas (do clube). Eles sabem muito bem quais são as necessidades do time, mas as respostas quem tem são eles” – respondeu o treinador ao ser perguntado sobre reforços após a final do Campeonato Mineiro, vencido pelo Galo.
A própria diretoria atleticana admitiu que as exigências de Sampaoli eram muitas. E não escondeu a irritação com o perfil do treinador.
“Fui conversar com ele e, obviamente, ele me fez alguns pleitos. Não posso sair falando aqui, começo a ficar até com a cabeça meio quente, mas é assim. Que bom que ele é proativo, nos cobra. Eu também tenho o direito de cobrar dele”- disse o presidente Sérgio Sette Camara à própria TV do clube.”
Ao todo, o Atlético-MG gastou quase R$ 150 milhões em reforços pedidos por Sampaoli. Mas, por outro lado, sofreu com atrasos salarias, o que tirou o argentino do sério. Assim como fez no Santos, ele cobrou a diretoria para que honrasse seus compromissos com o elenco.
“O Sampaoli veio para cá, o que também não é segredo, com algumas situações definidas: salário em dia, possibilidade de montar elenco forte para tentar título. Isso tudo nós estamos fazendo um esforço hercúleo para alcançar isso. O Atlético tem uma proximidade de ter esses vencimentos em dia” – admitiu o então diretor de futebol Alexandre Mattos.
Retirado de: Extra
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