Panos quentes, mas um problema longe de ser resolvido. Se o desligamento de Pablo Fernández, que será confirmado nesta segunda-feira, estanca o caos causado pela agressão no vestiário do Independência, a diretoria do Flamengo tem um desafio na busca por dias de paz: estancar as feridas na relação deteriorada entre Pedro e Jorge Sampaoli.
Por mais que a diretoria entenda que o causador da crise deflagrada no fim de semana seja seu preparador físico, Pedro foi literal e objetivo ao expor em suas redes sociais que os conflitos já existiam antes do soco que recebeu após a vitória sobre o Atlético-MG.
O atacante, que será punido pelo Flamengo por ter se recusado a aquecer no último sábado, definiu como “covardia psicológica” o tratamento recebido recentemente, e há rusgas escancaradas com Jorge Sampaoli.
O incômodo do camisa 9 vai além da redução de minutos em campo. Pedro entende que foi deixado de lado pelo treinador e sua comissão nas últimas semanas no dia a dia no Ninho do Urubu, e o estopim para a ruptura entre as partes aconteceu no vestiário da Arena do Grêmio após a vitória por 2 a 0 pela semifinal da Copa do Brasil, na última quarta-feira.
Na ocasião, Pedro substituiu Gabigol aos 33 minutos do segundo tempo e não mexeu no placar. Jorge Sampaoli demonstrou incômodo com o gol perdido após jogada individual nos acréscimos e disse que o atacante perdeu a oportunidade de definir a eliminatória para o Flamengo com o terceiro gol. No mesmo jogo, Gabigol perdeu um pênalti no primeiro tempo.
O diálogo foi a deixa para Pedro manifestar sua insatisfação com a perda de espaço, uma vez que não foi utilizado contra o Athletico-PR na Arena da Baixada e entrou nos minutos finais contra América-MG e Grêmio. Entre questionamentos sobre o que deveria fazer para ter mais oportunidades, o atacante relatou para pessoas próximas o descontentamento com uma frase que ouviu de Sampaoli:
“Você é muito religioso. Tem que brigar mais!”
As últimas semanas citadas por Pedro em seu posicionamento público representam ainda uma percepção de que não tem abertura do comandante para diálogos mais profundos a respeito do que aprimorar taticamente para recuperar espaço na equipe. Os questionamentos são respondidos com “precisamos encontrar um caminho”.
Do lado de Sampaoli, o posicionamento é distinto, e os relatos apontam para encontros ao longo dos últimos meses com exibição de vídeos individualizados com orientações que pudessem maximizar as qualidades e movimentação para se tornar mais participativo nos jogos. O treinador já externou em entrevistas a preferência por um centroavante de maior mobilidade e chegou a elogiar publicamente o esforço de Pedro para adaptação.
Questionado pelo ge a respeito do comentário sobre a religião, a resposta de Sampaoli foi de que “não houve nenhum comentário sobre a vida pessoal do Pedro, principalmente em relação às escolhas religiosas”. Além disso, ele reforçou que “todos os treinamentos são para todos do grupo. Todos os jogadores participam das mesmas atividades de ataque, assim como todos participam das ações defensivas”.
O ruído, por sua vez, existe e foi exposto também pelo comandante em sua nota oficial quando citou uma “disputa interna cujas razões existem”. No mesmo texto, disse que gostaria de ajudar Pedro e Pablo após a agressão, mas não houve qualquer contato entre Sampaoli e o atacante no domingo, o que aumenta a expectativa para o encontro nesta segunda.
Números de Pedro com Sampaoli
Pedro jogou 1.290 minutos desde que Sampaoli assumiu como treinador, contra o Ñublense, no Maracanã, pela Libertadores. Foram 27 jogos do argentino treinando o Rubro-Negro. Em 23 deles o centroavante foi relacionado, com média de 56 minutos em campo. Depois de um começo com titularidade e muito tempo de jogo, o centroavante vem perdendo espaço.
Desde a vitória sobre o Grêmio por 3 a 0, no dia 11 de junho, o centroavante foi titular em somente quatro das 11 partidas, jogando 90 minutos em apenas uma delas. Nos últimos quatro jogos, foi reserva em todos, não saiu do banco duas vezes e esteve no gramado por somente 27 minutos.
Em termos de comparação, nas primeiras 12 partidas sob comando do argentino, o camisa 9 foi titular em 11 (a exceção foi o clássico contra o Fluminense) e disputou a partida toda seis vezes. A produção do atacante também caiu. Foram oito gols marcados no começo da passagem do treinador contra apenas três nas últimas partidas.
Desde que chegou ao Flamengo, Pedro disputa a posição de centroavante com Gabigol. Apenas sob o comando de Dorival Júnior os dois atacantes conseguiram se encaixar e jogar constantemente juntos no time titular.
No começo de 2023, ainda quando Vítor Pereira treinava o clube, Gabriel manifestou o desejo de ser utilizado como referência de ataque e disputar a posição com o camisa 9. Até a chegada de Sampaoli, Pedro era um dos grandes protagonistas da equipe no ano. Foi relacionado para 18 partidas entre Recopa, Supercopa, Mundial, Carioca e Brasileiro, fez 15 gols e deu três assistências.
O Rubro-Negro abre o confronto de oitavas de final da Libertadores contra o Olimpia na próxima quinta-feira, às 21h (de Brasília), no Maracanã, e decide a vaga fora de casa no mesmo horário da próxima semana, no dia 9 de agosto.
Retirado de: Globo Esporte