Que Jorge Sampaoli é um treinador com temperamento complicado, frio com os jogadores, já se sabia quando ele foi contratado. O problema no Flamengo hoje vai muito além da relação pessoal com os atletas. Passada a barreira dos trinta jogos, o argentino não conseguiu imprimir uma identidade de jogo em campo, muito em função do desempenho técnico e físico de algumas peças, mas também por questões táticas mal compreendidas. Não há, segundo apuração da reportagem, uma mobilização do elenco do Flamengo para derrubar Sampaoli. O que existe é uma dificuldade de assimilar o que o treinador pretende. E por isso a relação pesa. Além de haver uma comunicação truncada entre as partes.
A reação no segundo tempo do jogo com o São Paulo foi vista internamente como um sinal de que os jogadores querem dar uma resposta e também tentam respaldar o trabalho para que ele não seja interrompido. As declarações de Sampaoli indicando que o grupo não compreende todas as suas ideias é verdade. A responsabilidade também é assumida pelo próprio comandante, pois é tarefa dele.
“Minhas equipes têm um grau de intensidade, pressão e ataque altos. Há facetas que ainda não consegui” – reconheceu.
Dessa forma, o Flamengo chega para o segundo jogo da semifinal da Copa do Brasil, contra o Grêmio, em queda livre de desempenho, sem confiança dos atletas e deles no técnico, que precisa mudar o cenário. A possibilidade de demissão em caso de eliminação é real, pois há quem já não consiga enxergar em Sampaoli a capacidade de reverter a situação no Flamengo para o restante da temporada.
A multa na casa dos R$ 15 milhões não será um fator impeditivo se a diretoria entender que o treinador não tem como tirar mais do elenco. Seja por questões de relacionamento, seja por questões de campo. Por outro lado, há quem entenda que o pior da conturbada relação já passou. Sampaoli tentou contatos individuais com alguns atletas após o caso de agressão a Pedro. Com o centroavante a primeira ocorreu nesta segunda-feira. Nomes como Cebolinha, Rodrigo Caio, Pablo e até dos goleiros Santos e Rossi só fazem número. Pedro, por sua vez, voltou a ter chances e correspondeu, mesmo após o caso de agressão do preparador físico. É nesse grupo que estão os mais insatisfeitos com a relação com Sampaoli. Os titulares e os que sempre têm chances são menos reativos aos conceitos do técnico, casos de Bruno Henrique e Gabigol, hoje intocáveis.
Em campo, o argentino ainda se mostra dependente de um sistema de jogo com dois alas que atacam e deixam muitos espaços na defesa. O Flamengo não tem conseguido trazudir volume de jogo em chances reais. Pesa ainda a insatisfação de Ayrton Lucas, que queria ser negociado para a Arábia Saudita, mas o clube recusou. A má fase dos meias Gerson, Arrascaeta e Éverton Ribeiro se soma ao desempenho abaixo da crítica de Gabigol, e não há peças de reposição com a capacidade de resolver individualmente. Nas laterais, Filipe Luís já deu sinais claros de esgotamento e Varela está fora dos planos. Sampaoli deixou outros jogadores de defesa e alguns de ataque nessa situação, e fica com poucas opções para mudar o panorama. A única solução mais aguda tem sido Luis Araújo, que começa a fazer a diferença quando
Com a barração de Éverton Ribeiro e Gerson, Allan Victor e Hugo reforçaram o meio-campo contra o São Paulo, mas faltou criatividade, e Arrascaeta acabou sobrecarregado. Algumas lideranças técnicas sabem que vivem momento ruim e deixam a desejar, e tentam não direcionar a responsabilidade apenas para o treinador. Já a diretoria observa tudo sem maiores cobranças. No dilema entre talento e competitividade, Sampaoli tenta encontrar um equilíbrio em meio a escalações diferentes a cada partida, não só por sua vontade, mas por ter suspensos e lesionados quase sempre. O mesmo acontecerá contra o Grêmio, no Maracanã, território agora hostil por parte de rubro-negros, que não aguenta mais qualquer sinal de acomodação.
Retirado de: Extra
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