Por: Leonardo Antônio
A gestão técnica do Flamengo no período pós-Jorge Jesus tem sido marcada por constantes mudanças e desafios. Segundo o ex-lateral-esquerdo Filipe Luís, essas alterações no comando técnico, embora frequentes, não foram erros, mas respostas a situações insustentáveis. Ele aponta que o clube estava estruturado especificamente para a metodologia de Jorge Jesus, e a necessidade de adaptação a diferentes estilos gerou dificuldades.
“O clube não estava preparado para a troca, o clube estava feito para Jorge Jesus, do jeito dele. De repente, você tem que mudar tudo e fazer algo novo. Eu não acho que erraram (nas trocas), era insustentável, os caras não aguentavam mais. Como iriam manter um treinador que ninguém aguentava mais?”, Disse Filipe Luís em entrevista ao Charla.
A análise de Filipe Luís sobre os sucessores de Jorge Jesus é detalhada e reveladora. Domenec Torrent, comparado constantemente a Jorge Jesus, enfrentou desafios significativos devido a essas comparações. Rogério Ceni, apesar de conquistas iniciais, lidou com lesões e perda de desempenho do time. Renato Gaúcho começou bem, mas falhou em uma final crucial, enquanto Paulo Sousa teve um período marcado por um ambiente de trabalho extremamente difícil e uma proximidade preocupante com a zona de rebaixamento.
“O Domenec poderia ser o Guardiola, depois do Jorge Jesus era muito difícil que ele tivesse dado certo. Eu e todo mundo comparávamos tudo. Era tudo aos trancos e barrancos. Trocaram, porque a torcida não queria mais. Veio o Rogério, ganhamos o Brasileiro, Supercopa, Estadual… lesões, time perdendo, não dá mais, trocaram. Renato veio, bem demais, recuperou os jogadores, perdeu a final, não vale nada, trocou de novo”, disse.
Sobre Paulo Sousa em particular, Filipe Luís destacou que, apesar do ambiente insustentável, o elenco se esforçou para manter o apoio ao treinador até o final. Ele mencionou a possibilidade de que contratações adicionais poderiam ter mudado o cenário para Sousa.
“Veio o Paulo Sousa, foi muito difícil, veio com uma ideia pré-concebida, uma coisa determinada na cabeça dele e não deixou o campo falar. Time não estava bem, as pessoas não sabem o que é o Flamengo, é um clube muito difícil, Dorival já sabe, arrumou o time. No final, o time caiu um pouco, mas é difícil”, começou
“Paulo Sousa estava superdifícil, todo mundo puto com ele, eu lembro do Diego chegar no meu quarto e falar: ‘Fili, está todo mundo puto com ele, mas vamos lutar até o final, porque é o que diz o nosso caráter. Nós temos que lutar por esse cara até o final, não cabe a nós chegar na diretoria e falar dele, nós vamos lutar por ele até o último segundo’. Paulo Sousa pode até não saber, mas o maior líder por ele defendeu até o fim”, continuou.
“Não deu certo, mas o Paulo Sousa não dava mais. Naquele momento que ele foi mandado embora, era preocupante a nossa situação, perto da zona de rebaixamento. Talvez, se tivessem trazido várias contratações para ele. O Sampaoli, o conteúdo dele era espetacular, a gestão de grupo dele não foi boa”, finalizou.
Quanto a Vítor Pereira, Filipe Luís teve impressões mais favoráveis, elogiando sua postura e profissionalismo, apesar de reconhecer rumores de problemas de relacionamento no Corinthians. Ele acredita que as derrotas em momentos cruciais, especialmente no Mundial, pesaram negativamente no desempenho e na percepção sobre o trabalho de Pereira.
“O Vítor Pereira, um mês depois de treino, vem a Supercopa e perde. Se tivesse ganho, o Mundial de Clubes seria diferente. Quando você começa a perder muito, seu trabalho perde credibilidade, você mesmo para de confiar no grupo, vê fantasmas… torcida não aguentava mais o Vítor Pereira. Até acho que ele em outro contexto teria dado certo”, começou a falar sobre Vitor Pereira.
“Mas conosco não tenho nada para falar dele, foi uma pessoa excelente, grande profissional e não deu certo. Eu não acredito nessas coisas sobre o ambiente. Eu acredito que tenha pesado as derrotas de semifinal no Mundial. Ele tentava, mas o time não encaixou. Eu e ninguém temos nada para falar do VP, ele foi um senhor”, finalizou.
Essa série de mudanças de treinadores reflete a busca constante do Flamengo por estabilidade e sucesso, num cenário onde a pressão e as expectativas são sempre elevadas.