A declaração de Fernando Diniz direcionada ao Cruzeiro

Fernando Diniz durante apresentação no Cruzeiro (Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Fernando Diniz fez um grande desabafo após a partida que encerrou a participação do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro, no último domingo (8/12). Em entrevista coletiva, ele falou que soube que seria demitido pela imprensa e não poupou críticas à diretoria, que pode demiti-lo pouco mais de dois meses depois que ele chegou.

O Cruzeiro foi a Caxias do Sul para enfrentar o Juventude pela 38ª rodada do Brasileirão e venceu por 1  a 0 , com gol de Tevis Gabriel, aos 30 minutos da primeira etapa, no Estádio Alfredo Jaconi. O resultado não foi o suficiente para a equipe celeste alcançar uma vaga na próxima Copa Libertadores da América, que terminou em 9° lugar com 52 pontos.

A situação vai contra o planejamento desejado pelo dono da SAF cruzeirense, Pedro Lourenço, que via como primordial a classificação para a competição continental em 2025. Por isso, desde a semana passada circulam informações na imprensa que dão conta da demissão do comandante Fernando Diniz. A Itatiaia foi o primeiro veículo a noticiar a decisão.

O comandante foi contratado em 23 de setembro, com vínculo até o fim de 2025 e deve deixar a Raposa pouco mais de dois meses depois de chegar. Ele dirigiu o clube por 15 jogos, venceu apenas 3 jogos, empatou 6 e perdeu outros 6. Além disso, foi vice-campeão da Copa Sul-Americana.

Durante a coletiva de imprensa após a vitória sobre o Juventude, ele não poupou críticas à condução de todo o processo, mesmo que a saída dele ainda não tenha sido declarada publicamente pelos mandatários mineiros. 

Leia o desabafo do treinador

“Eu não tenho arrependimento do que faço, porque sou sério e trato o futebol com todo carinho, todo amor, porque minha vida vai seguir para frente. Me sinto extremamente desrespeitado, porque estou sabendo isso pela imprensa. O Alexandre Mattos me chamou e me falou que tudo pode acontecer. Eu não posso admitir que uma pessoa me mande uma matéria numa quinta-feira. Eu estou sabendo disso desde quinta-feira, vocês sabem disso. A Itatiaia sabe muito mais do que vai acontecer comigo do que eu. Acho um desrespeito muito grande, mas muito grande. Me sinto extremamente desrespeitado, porque tive inúmeras propostas de trabalho e vim trabalhar no Cruzeiro.

É um desrespeito muito grande. Não teve clareza nas coisas. Eu estou sabendo, recebo uma mensagem, de quem manda em uma quinta-feira após Grêmio. Na outra quinta, eu fico sabendo que estava demitido na quinta. Foram vocês mesmo que começaram a divulgar, eu não acompanho vocês, não acompanho nada. Mas, de tanto falar, com tanta riqueza de detalhes, chegou para mim. O Alexandre Mattos me falou em uma conversa assim, conversa de muro. Mas eu sou homem de vir aqui e terminar, porque nunca deixei um trabalho na minha vida. Sei o que faço, das comissões que eu tenho.

O trabalho foi bem realizado e teve resultados ruins. Em algumas partidas, jogamos mal. Poucas partidas jogamos mal. O trabalho do técnico e o que o time produz. Se fosse para fazer isso comigo, não deveriam ter me contratado, eu também não deveria ter vindo. Eu não me arrependo de ter vindo. Não me arrependo, porque fiz o certo. Vim para uma instituição que eu queria vir, tenho respeito muito grande, joguei aqui e tinha muito mais coisa para fazer.

Vou citar todos os jogos aqui, contra o Libertad era para ganhar. Estava 1 a 0, a gente muito em cima do Libertad, o Romero foi expulso. Contra o Vasco, jogamos melhor e merecíamos ganhar. Contra o Fluminense jogamos melhor e merecíamos ganhar, contra o Bahia jogamos melhor e merecíamos ganhar. Uma partida que fizemos ruim, empatou no Mineirão contra o Lanús, foi logo na sequência. A torcida deu um show e a gente não conseguiu corresponder. Recuperamos e demos a resposta na Argentina.

Não sei a ordem certinha, poupamos contra Athletico-PR, contra o Corinthians, foram duas derrotas. Contra o Racing, jogamos mal o começo do jogo, mas jogamos muito melhor no segundo tempo, merecíamos empatar pelo o que aconteceu no jogo. Na sequência do campeonato vamos jogar sem o Matheus Henrique, sem o Kaio Jorge, em algumas partidas sem o Lucas Romero, sem o Walace, agora sem o Villalba. Aí começa, todo mundo, não conseguem analisar. Vocês acharam que jogamos mal contra o Red Bull. Jogou mal onde, para quem eles perderam dentro de casa? Jogamos mal contra o Grêmio, contra o Palmeiras jogamos com o time todo quebrado. Queriam que ganhássemos fácil contra o Palmeiras? Quem ganhou do Juventude aqui?

Me sinto muito desrespeitado, desrespeitado. Mas eu respeito às pessoas. Ninguém olhou no olho, é assim ou é assim. Foi uma conversa de muro. Mas eu sabia, não sou tonto. Quando vem esse tipo de coisa, tô no futebol há muito tempo, tem 40 anos que milito no meio do futebol. Isso que temos que saber conviver. Aqui a imprensa sabe antes dos profissionais que estão dentro. A gente vive mais para fora do que para dentro, não é para dentro não. Para dentro não vale. Vale só se ganhar o próximo jogo. Não vivo assim, acho uma mediocridade viver assim, é muito medíocre ser isso. Luto a minha vida inteira por conta disso, não me resumo a placar final de partida.

Não sou campeão da Libertadores, sou muito mais do que campeão da Libertadores, sou uma pessoa. É isso que vocês tentam fazer com os jogadores. O Tevis fez um gol, vocês vão exaltar, o dia que perder dois gols, não presta mais para jogar no Cruzeiro. 

Como que a gente quer mudança? A gente quer é isso aí, sangue e audiência. A gente não quer o melhor para ninguém, na sociedade e no futebol. Para mim é um desrespeito muito grande. Me sinto muito, mas muito desrespeitado. Não me arrependo nada de ter vindo. Vim de coração aberto para fazer um trabalho justo e honesto. E isso praticamente os jogadores, vai perguntar se o cara não melhorou. Pergunta se o Marlon não melhorou, se o William agora não terminou bem a competição. Se o Matheus Pereira não correu mais, não se dedicou mais, se o Cássio não aprendeu jogar melhor com os pés. Me trouxeram para quê? É isso, ou ganha ou sai em dois meses? Para que isso aí?”.