Um dos debates mais profundos do futebol mundial, a utilização de gramado natural ou sintético recebeu ainda foco no Brasil nesta semana. Tudo começou a partir de uma campanha de jogadores como Neymar, Gabigol e Lucas Moura contraria à utilização da grama artificial – dividindo ainda mais opiniões em torno do tema. A ação dos astros estimulou outras discussões igualmente acentuadas para André Henning.
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“A primeira frase do protesto dos jogadores diz: “preocupante ver o rumo que o futebol brasileiro está tomando”. Sim, concordo. E não vejo ninguém falando sobre calendário ou sobre a violência no futebol. Também não vejo ninguém falando sobre arbitragem, mas no sentido de ajudar, né? Porque para criticar tem muito, é o que mais vejo”, iniciou a contestação.
“Ou sobre a CBF, como a Seleção Brasileira está sendo cuidada. Não estou vendo os jogadores se unirem para ajudar na conscientização de apostas. Não estou vendo os jogadores se manifestando sobre vários outros temas que dizem respeito a eles, sobre o comportamento dos jogadores”, prosseguiu.
“Sobre o preço de ingressos? Não vi. Não vi esses jogadores, que são jogadores de peso, de Seleção, se colocando contra o preço abusivo dos ingressos da Seleção. Como aconteceu em Salvador, por exemplo, ou como provavelmente vai acontecer em Brasília de novo. Os caras falam de aproximar o povo, mas colocam o preço lá em cima. Então, assim, que seja o início de um movimento para isso”, concluiu.
@instanteesportivo André Henning cobra posicionamento dos jogadores em outros temas alem do gramado! #gramado #gramadosintetico #neymar #lucasmoura #gabigol #philippecoutinho ♬ som original – Instante Esportivo
Campanha dos jogadores
O movimento encabeçado por jogadores dominou os assuntos na mídia nacional e envolveu os próprios clubes. No Brasileirão, por exemplo, três estádios têm grama sintética e há estádios que contam o gramado piso híbrido – mistura entre o sintético e natural.
Grandes astros em atividade no Brasil aderiram ao movimento em seus respetivos perfis. Casos como Neymar, Memphis Depay, Thiago Silva, Lucas Moura, Gabigol, Pablo Vegetti, Philippe Coutinho, Gerson e outros.
“Preocupante ver o rumo que o futebol brasileiro está tomando. Com o tamanho e representatividade do nosso esporte, esse debate nem deveria existir. Nas ligas mais respeitadas do mundo, os jogadores são ouvidos e investimentos são feitos para assegurar a qualidade do gramado nos estádios. A solução para um gramado ruim é fazer um gramado bom, simples assim. Futebol é natural, não sintético. #NãoAoGramadoSintético”.
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O polêmico ‘tapetinho’ está presente em alguns estádios do Brasil: Allianz Parque (Palmeiras) e Nilton Santos (Botafogo) são exemplos na Série A. A Ligga Arena (Athletico) também se utiliza do recurso e até mesmo o remodelado Pacaembu. O Atlético-MG tem avaliado a utilização do sintético a partir deste ano na Arena MRV.
O que diz a parte médica do debate?
A preocupação mais iminente é com a onda de calor extremo que tem afetado o Brasil, que além de prejudicial à saúde também traz riscos à pratica do esporte no sintético.
“Os gramados brasileiros são espécies tropicais, bem resistentes ao calor. Claro que o gramado que não tiver irrigação adequada, se for uma irrigação ruim, aí sim, ele não tem como ser usado. Ele vai ficar todo queimado, porque as temperaturas estão muito exageradas”, explicou a engenheira agrônoma Maristela Kuhn em entrevista à CNN Brasil.
“Existem estudos comparando gramado natural com artificial, na mesma situação, mesmo local, a sol pleno, que (indicam que) o gramado artificial vai ter 20, 30 graus a mais que o gramado natural. Então tem uma diferença muito grande. O gramado sintético é uma estrutura plástica. Aí as temperaturas podem facilmente atingir 80, 90 graus. E queimar o pé dos jogadores, como a gente já viu diversas vezes, pela chuteira mesmo. Cria bolha, queima”, alerta.
Há, ainda, supostos impactos na incidência de lesões. Os alertas aos riscos ocorrem a partir de estudos comparativos entre os dois tipos de gramado, evidenciando a frequência e o tipo de problema físico causado por cada. Um dos primeiros ocorreu em 2006 e foi publicado pelo British Journal of Sports Medicine – em pesquisa financiada pela UEFA.
“Para esta pesquisa, foram selecionados 290 jogadores, de dez clubes europeus de elite, que instalaram superfícies de grama artificial de terceira geração em 2003-2004, e 202 jogadores da Premier League sueca, atuando como grupo de controle. Os pesquisadores queriam saber se haveria aumento na incidência de lesões”, e completou:
“Os resultados mostraram que a incidência de lesões durante o treinamento e o jogo não diferiu entre as superfícies para as equipes na coorte de grama artificial: 2,42 x 2,94 lesões/1000 horas de treinamento e 19,60 x 21,48 lesões/1000 horas de jogo para grama artificial e grama, respectivamente. Isto é, não foi observada diferença alguma na gravidade da lesão entre as superfícies”.
O tema é debatido ao redor do mundo há anos e também causa divergência. Contudo, todos os clubes das principais ligas do planeta e países da Europa utilizam grama natural ou híbrida. Isso porque o uso de grama artificial é integralmente restrito nesses locais. A Espanha, por exemplo, não proíbe o uso de grama sintética, mas incentiva e define regras para a manutenção de gramados naturais ou híbridos dentro de um padrão de aceitação para jogos da LaLiga.
“Nas principais ligas da Europa não se usa gramado sintético. A Fifa não usa gramado sintético nas competições que ela organiza. O nosso futebol é visto como o melhor futebol, o futebol que produz mais jogadores, e a gente não pode ter gramado sintético aqui. Eu sei que tem vários estudos, alguns que dizem que aumenta o risco de lesão, outros dizem que não tem nada a ver. Enfim, o nosso ponto é técnico, a dinâmica de jogo, o gramado natural, o jogo é diferente do gramado sintético”, justificou Lucas Moura.