Atualização importante sobre a SAF do Fluminense

Mário Bittencourt durante coletiva de imprensa no CT Carlos Castilho (Foto: Reprodução/Fluminense)

O Fluminense vai promover uma reunião decisiva em sua sede nas Laranjeiras na noite desta segunda-feira (14), às 19h30 (horário de Brasília), com o objetivo de atualizar o Conselho Deliberativo sobre o processo de transformação do departamento de futebol em Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

A reunião, considerada estratégica, tem como foco a apresentação de um estudo financeiro conduzido pelo banco BTG Pactual, contratado em 2022. A análise abrange a dívida total do clube, que já ultrapassa os R$ 800 milhões, bem como estimativas de valuation que apontam para um valor superior a R$ 2 bilhões.

Inicialmente, o presidente Mário Bittencourt defendia um modelo de SAF no qual o clube manteria o controle acionário. Contudo, diante da baixa receptividade do mercado, o conceito foi revisto, permitindo a possibilidade de venda majoritária a investidores.

Segundo o vice-presidente Matheus Montenegro, a operação tem como objetivo principal viabilizar investimentos no futebol e, simultaneamente, o pagamento das dívidas históricas. “Se hoje a gente não tivesse dívidas, com a receita que a gente alcançou, a gente teria um time muito bom. Como tem essa dívida que não acaba nunca, a gente precisa fazer uma operação para poder equacionar isso”, afirmou o dirigente.

Acusações de conflito de interesses

O principal ponto de contestação gira em torno da possibilidade de Mário Bittencourt se tornar o CEO da futura SAF, o que foi considerado um conflito de interesses por opositores. “Ele não tem condições de participar desse processo negocial”, declarou o advogado Ademar Arrais, um dos mais antigos críticos da atual gestão. Ele também questionou a escolha do BTG como único assessor financeiro do projeto, alegando que o banco possui interesses próprios na negociação.

A tensão aumentou após um grupo de 34 sócios apresentar uma ação civil pública com o intuito de impedir a nomeação de Mário ao cargo de CEO. O grupo também solicitou a inclusão de uma “regra de quarentena”, impedindo que atuais gestores do clube assumam cargos na SAF por um período mínimo de seis anos. A medida, conforme os proponentes, visa garantir a imparcialidade e a lisura no processo de transição.

Respostas da diretoria

Mário Bittencourt negou que sua eventual indicação para a SAF seja uma exigência. “Chega a ser até uma questão que me assusta que as pessoas possam pensar que eu teria colocado uma condicionante nesse sentido”, afirmou.

Ele também defendeu sua trajetória no clube e mencionou exemplos como os de Marcelo Paz, no Fortaleza, e dirigentes do Atlético-MG, que migraram para cargos executivos após as respectivas transformações em SAF. “Se o investidor achar que eu mereço e tenho condições, pode ser que eu aceite. Qual o mal nisso?”, questionou.

O vice-presidente Matheus Montenegro também saiu em defesa de Bittencourt. Em áudio divulgado recentemente, ele comentou: “Se dependesse de mim, seria ele [Mário] o CEO. Olha o que o clube era em 2019 e olha o que é hoje. Olha a receita, olha o equacionamento da dívida, os salários em dia, ganhar título…”.

Rupturas internas

O processo de SAF também gerou fissuras na base de apoio de Bittencourt. Ex-funcionário do clube e integrante do grupo Tricolor de Coração, Luís Monteagudo foi desligado após participar de uma reunião política sobre a SAF sem a anuência do presidente. “Ele ficou sabendo da reunião e ficou reclamando, perturbando meu juízo”, relatou Monteagudo, que também manifestou preocupação com a condução do processo e criticou a falta de transparência.

Outro ponto destacado pelos opositores diz respeito à ausência de um debate amplo com os sócios. Sérgio Poggi, ex-aliado da atual gestão e hoje um dos líderes do movimento Futuro Flu, criticou a diretoria por tratar o Conselho Deliberativo como mera instância homologatória.

“Não há pluralidade, diversidade, contraditório. O Conselho do Fluminense basicamente referenda o que a diretoria decide”, afirmou. Para ele, o tema está sendo conduzido com pressa em ano eleitoral e sem a devida participação da comunidade tricolor.

Perspectivas e próximos passos

A diretoria do Fluminense declarou que pretende apresentar os detalhes do processo de SAF aos Conselhos Diretor, Deliberativo e Fiscal antes de levá-los à Assembleia Geral, onde a decisão final será tomada. A oposição, por sua vez, exige auditorias independentes e maior abertura para o debate.