Dez dias após a publicação de uma reportagem revelando a desistência de um ambicioso projeto de profissionalização da arbitragem brasileira, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) organizou uma semana de treinamentos presenciais com árbitros no Rio de Janeiro. A iniciativa ocorre em meio a um cenário marcado por decisões controversas nas três primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro.
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O encontro dos árbitros acontece nas instalações do Clube da Aeronáutica, localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O espaço foi escolhido para receber os profissionais em um momento considerado estratégico. Afinal, os erros recentes nas partidas reacenderam a pressão por melhorias estruturais e maior qualificação técnica do quadro de arbitragem nacional.
Entre os lances que geraram polêmica estão os pênaltis assinalados contra o Sport, favoráveis ao São Paulo e ao Palmeiras, além do gol do Vasco diante do próprio Rubro-Negro, que contou com uma possível infração cometida por Vegetti. Outro episódio emblemático ocorreu na partida entre Internacional e Cruzeiro, quando Jonathan foi expulso logo no início do jogo no Beira-Rio. Ainda houve questionamentos sobre a não marcação de um pênalti por toque de mão de Gérson em Grêmio x Flamengo.
Conforme especialistas na área, como o ex-árbitro e comentarista Sálvio Spínola, o treinamento é bem-vindo, sobretudo diante da instabilidade recente. “Seria mais eficaz se essa preparação tivesse sido realizada durante a Data Fifa”, apontou ele. A crítica se justifica pelo fato de que a semana de treinos coincide com rodadas do Brasileirão, obrigando a liberação e eventual retorno de árbitros designados para apitar partidas nos dias seguintes.
Apesar da movimentação presencial, os treinamentos online continuarão a ser realizados. No entanto, a demanda por um investimento mais robusto em qualificação e estrutura ganha força. Aliás, a própria revista que denunciou o recuo da CBF em relação à criação de uma escola de árbitros e de um centro de treinamento específico destacou que o projeto poderia demandar um investimento de R$ 60 milhões.
Nesse contexto, a decisão da entidade máxima do futebol brasileiro de promover treinamentos presenciais é vista como uma resposta direta às críticas, embora tardiamente. A avaliação geral entre analistas é de que, apesar de úteis, essas medidas pontuais não substituem a necessidade de um plano estruturado de profissionalização da arbitragem.
Ainda que ações como a realizada no Rio de Janeiro possam trazer benefícios imediatos, o futebol brasileiro segue distante dos padrões adotados em ligas como a inglesa e a alemã. Nesses países, conforme apontam especialistas, há maior número de acertos em campo e menor interferência da arbitragem de vídeo — o que reflete em maior confiança dos torcedores nas decisões dos juízes.