Ednaldo Rodrigues conta com blindagem de políticos no cargo de presidente da CBF

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, em entrevista coletiva da seleção brasileira feminina (Foto: Thais Magalhães/CBF)

A atuação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ultrapassa os limites dos campos e gramados. Atualmente, a entidade máxima do futebol brasileiro conta com uma estrutura política consolidada em Brasília, onde deputados e senadores atuam com afinco para defender os interesses do presidente Ednaldo Rodrigues. Essa rede, conhecida informalmente como “bancada da bola”, inclui nomes influentes de diversos espectros ideológicos e tem ampliado a influência da CBF junto aos Três Poderes.

Expansão da influência institucional

Desde que assumiu o comando da CBF em 2021, Ednaldo Rodrigues tem construído pontes sólidas no meio político. Em junho de 2024, inaugurou uma casa no Lago Sul, área nobre da capital federal, transformada em espaço de lobby e representação da entidade. O local passou a ser palco de solenidades e encontros estratégicos. Aliás, o ambiente já recebeu ministros, parlamentares, empresários e dirigentes esportivos, tornando-se parte essencial da engrenagem política da CBF.

Segundo o próprio Ednaldo, “não parece ser motivo de estranhamento ou questionamentos” a existência do escritório, já que, conforme afirmou, a CBF busca manter boas relações com o governo federal, o Judiciário e o Legislativo.

A atuação coordenada no Legislativo

Conforme apuração, ao menos 22 parlamentares demonstram algum tipo de alinhamento com Ednaldo Rodrigues. Entre eles, estão figuras como José Rocha (União-BA), Leur Lomanto Jr (União-BA) e Paulo Azi (União-BA), todos com histórico de ligação ao futebol baiano. Rocha, ex-presidente do Vitória, declarou abertamente: “Em momento algum, vou deixar de afirmar que sou amigo pessoal do senhor Ednaldo Rodrigues. Isso é para ficar bem claro, bem claro”.

Esses parlamentares foram determinantes, por exemplo, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Resultados. Mesmo após requerimentos para convocar Ednaldo, o grupo conseguiu manobrar para que ele fosse apenas convidado — e sua ausência nas sessões foi interpretada como desinteresse, mas sem consequências diretas.

A CBF também promoveu eventos paralelos aos jogos da seleção brasileira em Brasília. Nessas ocasiões, convites foram distribuídos indiscriminadamente, incluindo ingressos e coquetéis em camarotes de luxo. A lista de convidados revela a abrangência da influência da entidade, com nomes como Nikolas Ferreira (PL-MG), Zeca Dirceu (PT-RS), Paulo Pimenta e o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues.

Conexões no Judiciário e articulação jurídica

O apoio à permanência de Ednaldo na presidência da CBF também se manifestou no Judiciário. Em dezembro de 2023, uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou seu afastamento, alegando irregularidades no processo eleitoral de 2022. Contudo, em janeiro de 2024, uma articulação envolvendo o PSD, o PCdoB e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, possibilitou seu retorno ao cargo. Gilmar é também proprietário do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), que possui parceria comercial com a CBF na área educacional.

O PCdoB, partido do deputado Orlando Silva, teve papel central na ação judicial. O secretário-geral da CBF, Alcino Rocha, é aliado político do parlamentar. Ednaldo afirmou que não provocou diretamente a ação, mas agradeceu o gesto do partido.

A proteção no Senado

No Senado, a articulação política também se mostrou eficaz. Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo na Casa, atuou publicamente para reverter a decisão de afastamento. “Considero a gestão de Ednaldo um importante avanço na democratização do futebol brasileiro”, declarou o senador. “Minha defesa se dá pelo reconhecimento do seu perfil técnico e pela simbologia de ver um dirigente negro e nordestino ocupar o cargo”.

Apesar de críticas pontuais à gestão, a movimentação contra Ednaldo tem encontrado barreiras, inclusive em comissões como a presidida por Leila Barros (PDT-DF), que evitou incluir a CBF na pauta após denúncias da imprensa.

Estratégias e articulações nos bastidores

A blindagem ao dirigente não se resume aos aliados declarados. Há congressistas que, mesmo com pouca ou nenhuma relação direta com Ednaldo, foram contemplados com cortesias da CBF, o que indica uma estratégia de aproximação mais ampla. “Eu não convidei nenhum político, mas fiquei feliz de encontrar tantas personalidades importantes”, afirmou Ednaldo sobre um dos eventos organizados pela entidade.

Outros nomes, como Arthur Lira (PP-AL), foram mencionados por suas conexões indiretas, a exemplo de Gustavo Feijó, ex-prefeito de Boca da Mata (AL) e ex-presidente da Federação Alagoana de Futebol, que também tentou disputar o comando da entidade. Embora Lira tenha negado influência direta, seu aliado foi contemplado com cargos estratégicos, como a presidência do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Disputa interna e reação pública

Ainda que a base de apoio a Ednaldo se mantenha robusta, a CBF tem enfrentado denúncias de aparelhamento e favorecimentos. A entidade respondeu com veemência, acusando ex-colaboradores de promoverem uma “raivosa campanha difamatória”. Em nota, a CBF afirmou que “a atual gestão teve a lisura aprovada em três situações: na eleição de 2022, na vitória sobre a tentativa de ‘golpe’ em 2024 e na reeleição da semana passada”.

Enquanto isso, críticos históricos da CBF, como Jorge Kajuru (PSB-GO) e Romário (PL-RJ), mantêm postura reservada. Kajuru comentou que, apesar dos erros, Ednaldo representa “um mal menor” em comparação com escândalos anteriores da entidade.