O Flamengo tem se consolidado como uma equipe que alia domínio territorial e controle emocional à inteligência tática sob o comando de Filipe Luís. A vitória por 2 a 0 sobre o Grêmio, no domingo (13), em Porto Alegre, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro, é mais um capítulo que ilustra com clareza essa proposta. Entretanto, conforme análise de Carlos Eduardo Mansur, colunista do jornal O Globo, o que mais salta aos olhos é o conceito de jogo: “atrair para acelerar”.
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Segundo Mansur, o maior trunfo do Flamengo atual é justamente a capacidade de induzir a marcação adversária e usá-la como ferramenta ofensiva. A equipe rubro-negra prefere, ocasionalmente, ser pressionada para criar oportunidades em velocidade.
“Um passe atrás pode ser o início de uma manobra ofensiva vertiginosa”, destacou o jornalista, ao descrever o padrão tático imposto pelo treinador.
O segundo gol da equipe foi citado como exemplo claro da “armadilha” criada por Filipe Luís: após De la Cruz recuperar a bola e acionar Rossi, o goleiro segurou a posse até a aproximação da marcação gremista. A partir daí, iniciou-se uma sequência coordenada de movimentações entre meias e atacantes, com deslocamentos em falso que abriram espaços nas costas da zaga adversária. O lance terminou com Cebolinha encontrando Arrascaeta, que finalizou com categoria no canto esquerdo de Tiago Volpi.
Ainda no primeiro tempo, a equipe já havia demonstrado esse padrão de atrair a pressão para buscar superioridade numérica no meio. Com os zagueiros puxando Pavón e Braithwaite, os rubro-negros abriram vantagem numérica no setor central, onde De la Cruz, Pulgar, Arrascaeta e Gerson dominaram as ações.
Domínio evidente, mas com alerta sobre efetividade
Apesar da vitória tranquila, o próprio Mansur apontou a escassez de finalizações como um ponto de atenção. “Era muito pouco não só diante do domínio, mas diante da quantidade razoável de ataques que se insinuavam perigosos”, escreveu.
Esse diagnóstico, aliás, também foi compartilhado por Filipe Luís após a partida. “Eu sou o treinador positivo. Entendo que vocês sejam mais negativos nesse ponto. Mas eu olho sempre as coisas boas que a gente fez, e as ruins é o meu trabalho corrigir”, afirmou o técnico.
Assim também analisou Emanuelle Ribeiro, do ge, que reconheceu o controle absoluto do Flamengo, mas pontuou o preciosismo exagerado do time no terço final do campo. Mesmo com 60% de posse, o volume não se traduziu em grande número de finalizações. Ainda assim, a vitória teve poucos sustos e foi definida pela genialidade de Arrascaeta.
Arrascaeta retoma o protagonismo
Após cirurgia no joelho e lesão muscular durante a Data Fifa, o camisa 10 parece, enfim, retomar seu melhor ritmo. Com dois gols — o primeiro logo aos 3 minutos — e participações fundamentais na construção das jogadas ofensivas, o uruguaio foi o grande nome em campo.
“Quando o camisa 10 marcou seu segundo gol, sua finalização foi de tal forma delicada, precisa, que Arrascaeta parecia dar um passe na direção da rede”, destacou Mansur.
Durante toda a partida, ele transitou entre as linhas do Grêmio com liberdade, aproveitando-se da ineficiência da marcação para ditar o ritmo das jogadas. Deu passes importantes para Bruno Henrique e Gerson ainda na primeira etapa, e finalizou de forma cirúrgica no segundo tempo.
Equilíbrio defensivo e consistência do meio-campo
A atuação segura da dupla de volantes De la Cruz e Pulgar foi determinante para conter o Grêmio. Juntos, somaram sete desarmes e fecharam o corredor central, limitando as investidas tricolores. Nas laterais, Wesley e Alex Sandro também tiveram desempenho sólido, impedindo ações de profundidade do adversário.
O goleiro Rossi, pouco exigido na primeira etapa, salvou o time com uma defesa difícil no final da segunda, em chute de Alysson. O Flamengo, que teve controle emocional e tático durante quase todo o jogo, soube neutralizar as ameaças e demonstrou maturidade mesmo com vantagem mínima no placar.
Caminho promissor, mas com ajustes a fazer
A vitória é inegavelmente significativa, sobretudo após a derrota recente para o Central Córdoba na Libertadores. Entretanto, tanto Mansur quanto Emanuelle apontaram que o time precisa transformar sua posse de bola em mais objetividade. Afinal, a criação existe, mas muitas jogadas promissoras morrem antes da conclusão.
A volta de Pedro pode ser um trunfo nesse aspecto, mas há a necessidade de diversificar as peças ofensivas que se sentem confortáveis finalizando. “Não é justo colocar todo o peso num jogador que vem de uma lesão grave”, alertou Mansur.
Próximo desafio do Flamengo
O Flamengo volta a campo na quarta-feira (16), às 21h30, no Maracanã, contra o Juventude, pela quarta rodada do Campeonato Brasileiro. Um novo teste para o modelo tático de Filipe Luís e mais uma oportunidade para o time aumentar sua agressividade ofensiva sem abrir mão do controle que vem se mostrando tão eficiente.