Bruno Henrique foi indiciado pela Polícia Federal por estelionato e fraude em competição esportiva, em um suposto esquema de manipulação de aposta envolvendo um cartão amarelo na partida contra o Santos, pela 31ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2023. Embora o processo ainda esteja em andamento, a gravidade das evidências levantadas e a repercussão do caso colocaram o nome do atleta no centro de um escândalo que pode, conforme as apurações, mudar paradigmas sobre integridade no futebol nacional.
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Mauro Cezar: “uma tolice de outro patamar”
O jornalista Mauro Cezar Pereira foi direto ao analisar o cenário. Em sua coluna, afirmou que o suposto envolvimento do jogador é “espantoso” e vai além dos limites da compreensão, considerando o patamar financeiro e profissional de Bruno Henrique. Para ele, a situação é indefensável.
“Supera os limites do absurdo alguém tão bem remunerado se envolver nisso. E por tão pouco, proporcionalmente”, escreveu o colunista.
O jornalista entende que, ainda que o atacante tenha o direito de apresentar sua versão dos fatos, a solidez dos indícios já divulgados dificulta qualquer tentativa de defesa eficaz. “São diálogos mais do que comprometedores”, pontuou.
Aliás, Mauro chamou atenção para um ponto muitas vezes ignorado em discussões sobre fraudes esportivas: a desonestidade de combinar ações com o objetivo de favorecer apostas. “Só isso bastaria para encerrar qualquer debate”, cravou.
O jornalista ponderou que, em casos de atletas em condições financeiras precárias, até poderia haver atenuantes. Contudo, Bruno Henrique está em uma posição completamente diferente. “Quem figura entre os mais bem remunerados não tem pretexto algum”, disse.
Por fim, Mauro ressaltou que a responsabilidade agora recai sobre as entidades do futebol brasileiro. “A responsabilidade, agora, é de CBF e STJD. Se Bruno Henrique não provar inocência, a punição terá de ser exemplar”, defendeu. O colunista concluiu com uma crítica contundente: “Se ficar comprovado o seu envolvimento, terá sido uma tolice gigantesca, uma tolice de outro patamar”.
As provas e a sincronia do esquema
A investigação da Polícia Federal detalha uma operação minuciosamente articulada. Segundo o inquérito, dez pessoas estão envolvidas, entre elas o irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, a cunhada Ludymilla Araújo Lima e a prima Poliana Ester Nunes Cardoso. Todos apostaram que Bruno Henrique receberia um cartão amarelo na partida contra o Santos.
O nível de coordenação impressiona. As apostas foram feitas em diferentes casas, mas em horários próximos, no dia anterior ao jogo. Conforme o relatório, a estratégia era distribuir os valores entre plataformas para evitar detecção e maximizar os lucros. O valor das apostas girou em torno de R$ 380,86, com Ludymilla ainda registrando aposta adicional de R$ 500 em outro site.
Além disso, a PF recuperou mensagens no celular de Wander que demonstram conhecimento prévio do resultado manipulado. Bruno Henrique, segundo o conteúdo extraído, teria garantido que não levaria o cartão antes da hora combinada. Em uma das mensagens, o próprio atacante diz: “Não vou reclamar”, “só se eu entrar duro em alguém”. No jogo, Bruno recebeu cartão amarelo por reclamação e, logo depois, foi expulso.
A investigação foi iniciada após três casas de apostas detectarem movimentações atípicas nesse mercado específico, algo que chamou atenção e levou à abertura do inquérito em agosto de 2024. Embora o STJD tenha arquivado uma apuração preliminar por ausência de provas, as descobertas recentes reacenderam o caso com mais força.
Posição do Flamengo e o curso do processo
O Flamengo se manifestou por meio de nota, afirmando que não foi oficialmente notificado pelas autoridades até o momento. O clube reiterou seu compromisso com o fair play desportivo, mas também frisou que respeita o princípio da presunção de inocência e o direito ao contraditório e ampla defesa.
Enquanto isso, o caso continua em análise. A apuração das autoridades inclui, além das conversas, a verificação estatística da probabilidade de Bruno Henrique ser advertido com cartão, apontada em apenas 21%. Ou seja, a aposta teria uma chance reduzida de acerto sem informação privilegiada.