O presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Luís Otávio Veríssimo, se posicionou de forma categórica sobre o caso envolvendo o atacante Bruno Henrique, do Flamengo. Indiciado pela Polícia Federal por suposta participação em um esquema de manipulação de apostas, o jogador não será suspenso preventivamente neste momento. A decisão da entidade desportiva se apoia, primordialmente, na ausência de recorrência no comportamento investigado.
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De acordo com Veríssimo, a suspensão preventiva, prevista na legislação esportiva, tem como função evitar prejuízos à integridade da competição quando há indícios consistentes de que o envolvido pode repetir o ato irregular.
“O provimento acautelatório é uma prevenção em relação à alta expectativa de recorrência do fato”, explicou. Conforme ressaltou, a medida só se justifica em cenários onde haja reiteradas condutas suspeitas monitoradas por agências especializadas ou autoridades esportivas.
No caso de Bruno Henrique, o episódio em questão remonta ao confronto contra o Santos, em outubro de 2023, quando ele teria recebido propositalmente um cartão amarelo. A partir disso, conforme apurado, o STJD solicitou o compartilhamento de documentos com as autoridades responsáveis. Contudo, Veríssimo indicou que não haverá pressa no andamento processual.
“As medidas preventivas não são instrumentos idôneos apenas para o clamor, mas muito estritamente para o andamento e, eventualmente, o prejuízo da competição”, completou o dirigente.
Embora o inquérito da Polícia Federal tenha motivado a reabertura do caso no STJD — que antes estava arquivado —, o entendimento é de que não há urgência que justifique a suspensão imediata do atleta. A pena preventiva prevista na legislação esportiva é de 30 dias, podendo ser prorrogada por mais 30. Caso haja condenação, a punição pode chegar a até 720 dias.
Enquanto não há nenhuma decisão judicial ou esportiva impeditiva, o Flamengo segue contando com Bruno Henrique, que está relacionado para a partida desta quarta-feira (16), às 21h30, contra o Juventude em partida válida pelo Brasileirão, no Maracanã.
Investigação da PF sustenta indiciamento
O caso ganhou amplitude após a conclusão de um extenso inquérito da Polícia Federal, que culminou no indiciamento de Bruno Henrique e de outras nove pessoas. Conforme revelado, as investigações foram iniciadas após operadoras de apostas identificarem um volume atípico de apostas voltadas à aplicação de um cartão amarelo ao jogador no duelo contra o Santos, realizado em Brasília, pelo Campeonato Brasileiro de 2023.
Prints de conversas obtidos durante a operação de busca e apreensão mostram o atacante e seu irmão Wander discutindo, com meses de antecedência, a intenção de receber o cartão. O jogador, à época pendurado com dois cartões, teria calculado o momento oportuno para forçar o terceiro. Wander, então, alertava apostadores que se organizaram para lucrar com o episódio.
Bruno Henrique acabou advertido nos acréscimos da partida após falta cometida sobre Soteldo e, logo em seguida, foi expulso por reclamação. Entre os indiciados também estão a esposa de Wander, Ludmylla Araújo Lima, uma prima do jogador, Poliana Ester Nunes Cardoso, e mais seis pessoas ligadas à família.
O Ministério Público do Distrito Federal, com base nas 84 páginas do relatório da Polícia Federal, deve apresentar denúncia ainda neste mês ou, no mais tardar, no início de maio. O objetivo é que a Justiça decida se Bruno Henrique será ou não tornado réu. O atacante foi enquadrado no artigo 200 da Lei Geral do Esporte, por fraude em competição esportiva, com pena prevista de dois a seis anos de prisão, além de estelionato, que pode resultar em pena de um a cinco anos.
Até o momento, o jogador não se manifestou publicamente após o indiciamento. Por meio de nota oficial, o Flamengo declarou que ainda não foi comunicado formalmente pelas autoridades e reiterou seu compromisso com o princípio da presunção de inocência.