A Polícia Federal (PF) indiciou o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, sob suspeita de envolvimento em um esquema de manipulação de resultado vinculado ao mercado de apostas esportivas. A investigação gira em torno de um cartão amarelo recebido pelo jogador na partida contra o Santos, realizada em 01 de novembro de 2023, válida pela 31ª rodada do Campeonato Brasileiro.
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Segundo consta, Bruno Henrique teria informado antecipadamente seu irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, sobre a intenção de forçar um cartão amarelo naquele jogo. Uma troca de mensagem encontrada após apreensão dos celulares expôs essa prévia comunicação. “Contra o Santos”, escreveu o atacante, ao ser questionado pelo irmão sobre quando tomaria a terceira advertência.
Familiares do jogador — incluindo seu irmão Wander, sua cunhada Ludymilla Araújo Lima e sua prima Poliana Ester Nunes Cardoso — aparecem na denúncia com apostas combinadas na mesma partida. Todas direcionadas ao recebimento de cartão amarelo por Bruno Henrique.
A PF ainda afirma que as apostas foram feitas em horários próximos e em valores semelhantes, sugerindo, portanto, uma ação coordenada.
No dia anterior ao jogo, por exemplo, Wander, Ludymilla e Poliana realizaram apostas de R$ 380,86 no site da Betano. Posteriormente, a cunhada efetuou outra aposta de R$ 500 na plataforma Galera Bet. A análise dos investigadores indicou que a estratégia visava ampliar os ganhos em diferentes operadoras de apostas.
Provas e diálogos reveladores
Mensagens resgatadas do aparelho de Wander revelam trocas explícitas com o jogador. Em uma delas, Bruno Henrique afirma: “Não vou reclamar. Só se eu entrar forte em alguém”.
O caso se agravou com os registros de conversas posteriores à partida. Em dezembro, mais de um mês após a derrota, Wander solicitou ajuda financeira ao irmão. Ele alegava não ter recebido o prêmio, no valor de R$ 12 mil, que seria fruto da aposta de R$ 3 mil, da aposta anterior.
“Coloquei 3 mil pra ganhar 12 e eles bloquearam por suspeita”, escreveu Wander referindo-se à casa de apostas. Na sequência, ele pede R$ 10 mil emprestados ao irmão, que envia um comprovante de transferência e diz: “Pegando (o) dinheiro você paga, hein”.
Flamengo mantém cautela
Procurado pela imprensa, o Flamengo informou por meio de nota oficial que não foi notificado por qualquer autoridade pública sobre os fatos envolvendo o jogador. O clube reforçou seu compromisso com o fair play, mas destacou a importância do “devido processo legal”.
“O Flamengo tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa”, declarou a diretoria.
Outras implicações e andamento do processo
Bruno Henrique e seus familiares foram alvos de operação de busca e apreensão ainda em novembro de 2023. Na ocasião, os celulares dos envolvidos foram apreendidos e periciados. As autoridades indicaram um total de dez pessoas sob suspeita, sendo os três familiares do jogador os principais alvos iniciais.
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) chegou a abrir um procedimento sobre o caso no passado, mas arquivou após análise da Sportradar, que não identificou irregularidades na partida. Contudo, a PF manteve a apuração ativa e aprofundou as investigações com base nos indícios encontrados nos aparelhos eletrônicos.