A investigação da Polícia Federal que culminou no indiciamento de Bruno Henrique, atacante do Flamengo, por fraude e estelionato, revelou um possível esquema envolvendo apostas esportivas e a participação de membros da própria família do jogador. Conforme relatado em documentos oficiais e obtido pelos investigadores, o foco da apuração é o cartão amarelo recebido pelo atleta nos acréscimos do confronto contra o Santos, pela 31ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2023.
Notícias mais lidas:
Wander Junior: silêncio, várzea e apostas
Wander Nunes Pinto Junior, irmão do jogador e auxiliar administrativo, foi uma das dez pessoas investigadas, sendo uma das três com relação familiar direta com Bruno Henrique. Em depoimento prestado à Polícia Federal no mês de março, ele se manteve em silêncio sobre os pontos mais sensíveis da apuração, optando por não responder às perguntas relacionadas ao suposto esquema.
Limitou-se a declarar que recebe R$ 6 mil como salário mensal e complementa sua renda jogando futebol amador em Minas Gerais, recebendo entre R$ 500 e R$ 800 por partida.
Contudo, as mensagens encontradas no celular de Wander apresentam diálogos comprometedores com o atacante. Em uma delas, ele questiona: “Quando [o] pessoal mandar tomar o 3, liga nós hein kkkk”. Bruno Henrique, por sua vez, respondeu de forma direta: “Contra o Santos”. A troca prossegue com o irmão dizendo: “já vou guardar o dinheiro. Investimento com sucesso”.
Ainda de acordo com os autos, a frase registrada no inquérito — “As trocas de mensagens indicam que Bruno Henrique teria passado a Wander informações antecipadas no que tange ao recebimento de um cartão amarelo” — reforça a tese de que o ato foi planejado com o intuito de beneficiar apostas.
Valores recebidos e lucros gerados pelos familiares
Conforme detalhado pela PF e divulgado pelo site “Metrópoles”, os ganhos dos familiares de Bruno Henrique com as apostas chamam atenção. A quantia total apostada pelo grupo de três parentes foi de R$ 1.262,58, e o retorno foi expressivo: cerca de R$ 4.967,01, com R$ 3.324,43 representando lucro líquido.
Wander apostou R$ 380,86 e obteve retorno de R$ 1.180,67. Já Ludymilla Araújo Lima, cunhada do atacante, realizou duas apostas: uma de R$ 380,86, que rendeu os mesmos R$ 1.180,67, e outra de R$ 500, com retorno de R$ 1.425. Poliana Ester Nunes Cardoso, prima do jogador, também apostou R$ 380,86 e teve retorno de R$ 1.180,67. Todas as apostas se referiam ao mesmo evento: a partida entre Flamengo e Santos.
A investigação revelou ainda que cerca de quatro mil mensagens do WhatsApp de Bruno Henrique foram analisadas, embora boa parte estivesse apagada ou sem conteúdo. A PF considera a possibilidade de que o jogador tenha excluído deliberadamente algumas conversas.
Posição oficial do Flamengo
Diante da repercussão do caso, o Flamengo se manifestou por meio de nota oficial publicada na noite de terça-feira (15). A diretoria afirmou não ter sido comunicada oficialmente pelas autoridades e declarou:
“O Flamengo tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito.”
Encaminhamentos e contexto
A investigação segue em curso, e o indiciamento de Bruno Henrique levanta novos questionamentos sobre a relação entre atletas profissionais e o universo das apostas esportivas, que atualmente movimenta cifras bilionárias. Embora o jogador ainda não tenha se pronunciado oficialmente, o conteúdo revelado nas apurações da PF coloca seu nome no centro de uma das denúncias mais sensíveis envolvendo o futebol brasileiro nos últimos anos.
Enquanto isso, a torcida do Flamengo acompanha atentamente os desdobramentos do caso, que, inevitavelmente, respinga no planejamento do clube para a temporada. Afinal, trata-se de um dos principais nomes do elenco rubro-negro, agora envolvido em um episódio de repercussão nacional.
