A Polícia Civil de São Paulo finalizou o inquérito que investigava suspeitas de cambismo envolvendo a venda de ingressos para jogos do Corinthians. Após meses de apuração, o relatório final, assinado pelo delegado Marcel Madruga, concluiu que não há elementos suficientes para responsabilização penal de dirigentes do clube e recomendou o arquivamento do caso.
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A investigação teve início no segundo semestre de 2024, após solicitação de Romeu Tuma Júnior, presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians. O pedido veio em meio a um período de forte instabilidade política no clube, marcado pelo processo de impeachment do presidente Augusto Melo.
O inquérito ficou a cargo da 4ª Delegacia da Divisão de Crimes Cibernéticos, e envolveu a escuta de diversos funcionários do clube, além de torcedores e suspeitos de envolvimento na revenda ilegal de ingressos.
Embora a apuração tenha constatado práticas de revenda de entradas por sócio-torcedores — atividade que pode ser considerada lesiva ao clube —, o delegado enfatizou que não foram encontrados indícios de invasão ao sistema “Fiel Torcedor”, tampouco houve violação cibernética ou fraude técnica. Dessa forma, o núcleo da investigação não apontou a existência de crime de natureza penal que justificasse o prosseguimento do inquérito judicial.
Delimitação das responsabilidades
Conforme relatado pelo delegado Marcel Madruga, “os fatos investigados decorrem preponderantemente de questões internas de gestão”, as quais, segundo ele, devem ser resolvidas por meio dos mecanismos próprios de fiscalização do clube, como conselhos e assembleias. Ainda segundo o delegado, “eventuais irregularidades administrativas não apresentam relevância penal suficiente para justificar persecução penal dos dirigentes”.
Além disso, a emissão manual de ingressos por parte de alguns funcionários do clube, que chegou a ser analisada, foi considerada regular. A ação, segundo a Polícia, foi realizada com login corporativo autorizado pela diretoria, o que afasta a hipótese de má-fé ou de prática dolosa por parte desses colaboradores.
Consequências institucionais e medidas adotadas
Mesmo com a recomendação de arquivamento por parte da Polícia Civil, o caso mobilizou órgãos internos do Corinthians. As comissões de Justiça e Marketing do Conselho Deliberativo, bem como o Conselho de Orientação (CORI), também investigam a questão, exigindo esclarecimentos da diretoria e acompanhamento das medidas de controle.
Paralelamente à conclusão do inquérito, o clube anunciou a adoção de medidas práticas para enfrentar o problema. Entre elas, destaca-se o acordo com uma empresa especializada em segurança para a instalação de um sistema de reconhecimento facial na Neo Química Arena. A diretoria considera essa tecnologia essencial para coibir a ação de cambistas e proteger os torcedores na aquisição legítima dos ingressos.
Implicações políticas e desdobramentos
O relatório da Polícia faz menção explícita à tentativa de uso político do inquérito dentro do clube. Conforme consta no documento, “o inquérito policial não pode ser utilizado indevidamente com fins políticos, especialmente na ausência de demonstração de infração penal”. Essa observação surge em meio ao embate entre diferentes grupos internos e ao ambiente de crise institucional gerado pelas denúncias e pelo processo de impeachment do atual presidente.