O atacante Bruno Henrique, do Flamengo, não compareceu ao depoimento agendado pela Polícia Federal (PF) no âmbito de um inquérito que investiga suposta fraude em apostas esportivas. A ausência ocorreu no dia 1º de abril, às 15h, em um momento decisivo da apuração, já que o depoimento seria a última oitiva antes da conclusão formal da investigação.
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Conforme informações apuradas, a PF pretendia interrogar o jogador sobre mensagens encontradas no celular de seu irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, que indicam possível envolvimento direto do atacante em um esquema voltado para manipular o recebimento de um cartão amarelo na partida entre Flamengo e Santos, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2023.
Defesa apresentou justificativas
A defesa do atleta informou que Bruno Henrique não desejava prestar depoimento e, em vez disso, pretendia apresentar esclarecimentos por escrito — o que, até o momento, não foi concretizado. Além disso, os advogados entregaram à PF uma planilha com a agenda do jogador, que incluía atividades com o elenco no Ninho do Urubu e compromissos no departamento médico na mesma data da convocação. O pedido também solicitava que uma nova data para o depoimento não fosse marcada.
No dia seguinte ao agendamento, a delegação do Flamengo viajou à Venezuela para a estreia na Copa Libertadores da América, justificando, segundo a defesa, a incompatibilidade de horários com o depoimento.
Indícios e mensagens comprometedoras
As investigações, que culminaram no indiciamento de Bruno Henrique por estelionato e fraude em competição esportiva, ganharam força com base em conversas localizadas no celular de Wander. Em uma dessas mensagens, datada de 9 de dezembro de 2023, o irmão do jogador afirma ter apostado R$ 3 mil em um cartão amarelo para Bruno Henrique, esperando retorno de R$ 12 mil, valor que foi bloqueado por suspeita de atividade irregular.
“No dia que você me deu ideia do cartão, eu apostei 3 mil pra ganhar 12 mil. Só que até hoje eles não pagaram, colocaram a aposta sob análise, e o dinheiro está todo preso lá”, escreveu Wander. Em outro trecho, ele solicita ao irmão um valor de R$ 10 mil como ajuda financeira emergencial, alegando dívidas com cartão de crédito e pensão alimentícia: “Se você me ajudar nessa aí você vai me salvar. Não tenho nem mais onde recorrer“.
Em resposta, Bruno Henrique limitou-se a responder: “Tendi nada oq vc falou aqui Juninho (sic)”, e posteriormente enviou o que a PF interpreta como um comprovante de transferência, seguido da mensagem: “Pegando dinheiro vc paga em”.
Atuação conjunta sob suspeita
A PF também identificou que o irmão do jogador mantinha contato direto com outros quatro suspeitos, todos investigados por apostas relacionadas ao cartão amarelo recebido por Bruno Henrique. As apostas foram feitas, principalmente, pela plataforma Blaze, que até o momento forneceu apenas dados cadastrais à PF, recusando-se a entregar informações financeiras completas, alegando proteção prevista no Marco Civil da Internet e na Lei de Lavagem de Dinheiro.
Por outro lado, casas como Betano, GaleraBet e KTO cooperaram com a investigação, indicando que mais de 95% das apostas no jogo entre Flamengo e Santos estavam concentradas na penalidade ao atacante. A Betano, especificamente, apontou que 98% das apostas foram direcionadas ao cartão para Bruno Henrique, movimento considerado altamente atípico.
Caminhos legais e implicações esportivas
A Polícia Federal compartilhou os dados do inquérito com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que conduz investigação paralela e deve formalizar denúncia até o final de abril. Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) já sinalizaram que os crimes atribuídos ao jogador não se enquadram nos critérios legais para acordos de não persecução penal. Portanto, Bruno Henrique deverá responder judicialmente, sem possibilidade de acordo com a Promotoria.
Além da esfera penal, o caso também pode desdobrar-se no campo esportivo. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) solicitou acesso às provas reunidas pela PF, com o intuito de avaliar a abertura de um processo disciplinar que poderá acarretar sanções esportivas ao atacante.