Luís Castro relembra vaias no Botafogo e comenta sobre próximo trabalho

Luis Castro durante uma viagem do Al Nassr (Foto: Divulgação/Al Nassr)

Em entrevista concedida ao videocast “Toca e Passa”, do jornal O Globo, o técnico Luís Castro abriu o coração ao abordar temas relevantes de sua trajetória recente pelo Botafogo. O papo passou por capítulos dos protestos que enfrentou nas arquibancadas às suas perspectivas profissionais. O treinador, atualmente sem clube após deixar o Al-Nassr, revisitou acontecimentos marcantes e se mostrou reflexivo quanto ao impacto das emoções no futebol.

Luís Castro foi o primeiro comandante do Botafogo na era da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), conduzida por John Textor. Apesar de ter iniciado a reestruturação do elenco e liderado o Campeonato Brasileiro de 2023 antes de se transferir para a Arábia Saudita, o treinador faz questão de se desvincular dos títulos conquistados posteriormente pelo clube, em 2024 — a saber, a Libertadores e o Brasileirão.

“Não tem nada de Luís”, afirmou. “Tem muito do Artur Jorge, muitíssimo. Tem muito de John Textor, da administração, da torcida que foi incansável, dos jogadores, de toda essa gente que trabalhou nessa época. Tem muito do plano de John Textor. De mim, não tem nada.”

Vaias e compreensão do ‘coração do estádio’

Castro também abordou as vaias recebidas durante sua passagem pelo Botafogo. Segundo ele, a manifestação das arquibancadas representa o sentimento genuíno da torcida e não deve ser confundida com ofensas fora do estádio. “Respeito muito o coração do estádio. Ele sente, manifesta o que sente. Isso é natural”, explicou.

Aliás, o treinador fez questão de distinguir o protesto esportivo das agressões pessoais: “Outra coisa é a agressão verbal ou física fora do estádio. Isso não cabe. No estádio, tudo bem. É espontâneo, é emoção. Quem gosta do aplauso tem que saber aceitar a vaia.”

Ainda que reconheça o desconforto inicial com os protestos, ele revelou ter feito uma reflexão profunda, compreendendo que tais manifestações são parte do espetáculo. “No dia que isso acabar, acabou o futebol”, sentenciou, indicando que a essência emocional do jogo depende justamente da paixão dos torcedores.

Crise interior e saudade do campo

Distante das quatro linhas desde setembro de 2024, Luís Castro revelou viver uma espécie de “crise existencial” longe do cotidiano de treinamentos. Conforme declarou, foram 28 anos ininterruptos trabalhando como técnico, e a ausência da rotina provocou instabilidade emocional. “Nos primeiros dias em Portugal, me senti muito instável. Não tinha treino, não tinha jogo, não tinha perspectiva.”

Entretanto, ele reiterou que o afastamento foi uma escolha pessoal, estabelecendo como meta descansar até junho ou julho. “Prometi a mim mesmo. Mas está difícil”, confidenciou. Ainda assim, mantém o acompanhamento atento ao futebol mundial e, principalmente, ao brasileiro.

Exigências para um novo desafio

A respeito de seu próximo destino, Luís Castro foi claro: deseja um ambiente em que possa participar ativamente do projeto esportivo. “Gosto de uma visão apaixonada de quem dirige o clube. Gosto de ser dominador. Construir, indicar, participar. Se for só mais um, não quero”, declarou. Para ele, sintonia com a diretoria e organização interna são pré-requisitos para aceitar qualquer novo desafio.

Enquanto isso, não deixou de comentar o cenário técnico no Brasil. Enalteceu trabalhos como o de Abel Ferreira no Palmeiras, Rogério Ceni, e Filipe Luís no Flamengo. Sobre o ex-jogador Alan Patrick, a quem treinou no Shakhtar, afirmou: “Esse velho, no bom sentido, é impressionante. Tem os olhos nos pés.”

Relação com Textor e possível volta ao Botafogo

Luís Castro reforçou que a relação com John Textor sempre foi de respeito mútuo, inclusive no momento da saída. “É como deve ser o futebol: à luz daquilo que foi acordado no contrato.” Quando perguntado sobre uma eventual volta ao Botafogo, foi cauteloso. “Há uma parte que me ama e outra que me odeia. Não quero ser divisor dentro do clube.”

Embora afirme que não pretende ser fator de instabilidade no atual momento da equipe, liderada por Renato Paiva, não descartou futuras colaborações. “Não sei o que vai acontecer na vida.”

Experiência na Arábia

Durante sua passagem pelo Al-Nassr, Castro conviveu com estrelas como Cristiano Ronaldo e Sadio Mané. Sobre o astro português, foi enfático: “Trabalhar com ele é surpreendente. Ele se dedica totalmente. Tem método, rotina. Não come açúcar, não bebe álcool. É impressionante.”

Em contraponto, destacou a infelicidade de Neymar, que sofreu lesões enquanto atuava pelo Al-Hilal. “É um jogador fabuloso, mas não pôde mostrar tudo por causa da lesão.”

Olhar sobre a seleção brasileira

Por fim, ao analisar a fase da seleção brasileira, o técnico ressaltou a importância de unidade e organização institucional. “O futuro da seleção não reside só na escolha do técnico, mas no envolvimento de todos. Precisa de líderes que unam o país em torno da seleção.”

Questionado sobre um possível convite da CBF, reconheceu o prestígio que o cargo representa: “É algo para o qual qualquer treinador tem que estar preparado.”