Corinthians apresenta balanço financeiro com dívida bruta superior a R$ 2 bilhões

Escudo do Corinthians na Néo Química Arena (Foto Reprodução/Instagram)

O Corinthians apresentou, na noite de sexta-feira (18), as demonstrações financeiras referentes ao exercício de 2024. O balanço protocolado junto aos órgãos internos do clube revelou um cenário financeiro complexo: a dívida bruta alvinegra atingiu R$ 2,568 bilhões, enquanto a receita total alcançou a marca histórica de R$ 1,115 bilhão.

A gestão de Augusto Melo, em seu primeiro ano à frente do clube, teve de lidar com uma elevação significativa nas obrigações financeiras. O Corinthians registrou um aumento de R$ 257 milhões em sua dívida bruta em relação ao ano anterior. Segundo o departamento financeiro, R$ 107 milhões foram destinados a investimentos no departamento de futebol, ao passo que outros R$ 192 milhões referem-se a compromissos com agentes, bancos e fornecedores.

Ainda assim, o clube argumenta que parte desse montante — especificamente R$ 150 milhões — diz respeito a um adiantamento recebido da Liga Forte União (LFU), relativo a direitos de transmissão.

“Contabilmente, o Corinthians fecha o ano com um passivo bruto de R$ 2,568 bilhões. Mas, gerencialmente, por causa do contrato da LFU, estamos considerando como R$ 2,418 bilhões”, explicou Pedro Silveira, diretor financeiro do clube.

Receita recorde e melhora operacional

Apesar da elevação na dívida, o Corinthians registrou um resultado inédito em termos de arrecadação. A receita do clube cresceu 19% em relação ao ano anterior, impulsionada por um aumento de 13% nas receitas recorrentes e 35% na venda de atletas.

O resultado operacional (EBITDA) chegou a R$ 293 milhões — um crescimento de 44% em comparação a 2023 —, o que representa, segundo a diretoria, o melhor desempenho já obtido pelo clube nesta métrica.

“Quero destacar o aumento da receita do Corinthians. Isso é apenas a receita do clube e não inclui o consolidado da arena”, pontuou Pedro Silveira. Ele acrescentou que, embora as despesas tenham subido 14%, totalizando R$ 716 milhões, o crescimento proporcionalmente maior das receitas gerou um cenário positivo do ponto de vista operacional.

Dívidas anteriores e alerta da auditoria

Além dos compromissos de 2024, a atual gestão também reconheceu R$ 191,2 milhões em dívidas e contingências com origem em 2023 ou em anos anteriores. Entre os valores destacados estão: R$ 76 milhões referentes a parcelamentos de ISS com a Prefeitura de São Paulo, R$ 30,2 milhões de apropriação de juros do PROFUT, R$ 56,2 milhões em contingências prováveis de 2023 e outros R$ 28,8 milhões relacionados a pendências diversas.

Contudo, a situação financeira ainda inspira cautela. A empresa GF Brasil Auditoria & Consultoria emitiu uma “opinião com ressalva” no relatório que analisou o balanço. O principal motivo foi a ausência da divulgação das demonstrações financeiras consolidadas, obrigatórias pelas normas contábeis brasileiras.

Além disso, o relatório alerta para “incertezas relevantes quanto à continuidade operacional” da instituição, uma vez que o exercício de 2024 encerrou com um déficit de R$ 181,7 milhões, passivo circulante superior ao ativo circulante em R$ 516,5 milhões, e patrimônio líquido negativo de R$ 425,2 milhões.

Capacidade de pagamento e próximos passos

Apesar do passivo elevado, a diretoria financeira destacou que os indicadores de solvência do clube apresentaram evolução. O índice de endividamento sobre a receita caiu de 1,9 para 1,7 vezes, enquanto a relação entre endividamento e EBITDA passou de 8,7 para 6,4 vezes — ambos recuos de 12% em relação a 2023. “Hoje, o Corinthians é um clube muito mais saudável, com muito mais capacidade de honrar seus compromissos”, defendeu o diretor Pedro Silveira.

A entrega do balanço marca uma etapa fundamental do calendário de governança previsto pela Lei Geral do Esporte, que exige que todos os clubes apresentem seus demonstrativos até o fim de abril. Agora, o documento será submetido à análise dos conselhos Fiscal, de Orientação (CORI) e Deliberativo.

A aprovação dos dados será determinante para a estabilidade da gestão de Augusto Melo, uma vez que a não aprovação pode abrir margem para novas tentativas de impeachment do mandatário.