A atmosfera no Maracanã na última quarta-feira (16) ficou marcada por um misto de entusiasmo completo com a goleada por 6 a 0 sobre o Juventude, mas também de protestos contra precificação do ingresso em jogos do Flamengo. No duelo seguinte às manifestações, no empate sem gols com o Vasco, no último sábado (19), um torcedor aproveitou o espaço cedido pela imprensa para fazer quórum às reclamações.
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“Sou mulambo. Sou negro mesmo, cabelo duro. Estão tirando esse torcedor do estádio. Eu não vim quarta, mas vim hoje. Eu deixei pra vir hoje. Porque se vier na quarta, você não vem no sábado, mano. Tá complicado, mano. Entendeu? E só quem perde é o Flamengo”, iniciou.
Esse desabafo, feito em tom de revolta, vai além da crítica ao preço dos ingressos — ele traduz a percepção de um afastamento deliberado de torcedores populares do ambiente do estádio. “Sem a gente, o Flamengo não é o Flamengo, irmão. O Flamengo é o torcedor, mano. Estão tirando isso do torcedor. A verdade é essa”.
“Baixa o ingresso”: cânticos e faixas evidenciam tensão
Boa parte da arquibancada do Maracanã se uniu em protesto durante o primeiro tempo da goleada sobre o Juventude. Os gritos de “ô, baixa o ingresso” tomaram conta do estádio e, juntamente com xingamentos direcionados ao presidente do clube, Luiz Eduardo Baptista (Bap), deixaram clara a insatisfação crescente.
Uma faixa fixada no local sintetizava o sentimento: “Ingresso caro, arquibancada vazia”.
Aliás, essa não foi uma manifestação isolada. Desde o Campeonato Carioca, a torcida tem questionado os valores dos bilhetes. Em fevereiro, no confronto com o Maricá, torcidas organizadas chegaram a boicotar o jogo em protesto.
A estratégia da diretoria, de abrir setores do Maracanã conforme a demanda, não tem sido suficiente para aplacar as críticas, principalmente diante dos altos valores cobrados — que variaram entre R$ 80 e R$ 500 no jogo contra o Juventude.
Planos de sócio-torcedor não contêm os ânimos
Apesar do lançamento de um novo programa de sócio-torcedor antes da partida contra o Juventude, com diferentes faixas de desconto, o número de cadeiras vazias nas arquibancadas ainda se manteve relevante. A medida, que deveria incentivar o comparecimento, não conseguiu frear os protestos. A maioria dos torcedores segue sem aderir aos pacotes, principalmente aqueles que frequentam o estádio de forma mais esporádica.
Entretanto, a insatisfação não se restringe apenas ao campo econômico. Torcedores têm expressado desconforto com o que entendem como uma tentativa de elitização do acesso ao estádio, o que resulta na exclusão de parcelas historicamente presentes nas arquibancadas rubro-negras. O caráter político atribuído a esse movimento foi um dos principais focos do desabafo ouvido no Maracanã.
Valores para Flamengo x Corinthians
Mesmo diante das manifestações, a diretoria do Flamengo optou por manter os mesmos preços para a partida contra o Corinthians, marcada para o próximo domingo (27 de abril), no Maracanã. Assim como no duelo anterior, os valores variam conforme o setor e o plano de sócio-torcedor.
Para o público geral, os ingressos vão de R$ 80,00 a R$ 500,00. No setor Sul, o mais barato custa R$ 80,00 (meia a R$ 40,00), enquanto no setor Norte, mais popular entre os torcedores do Flamengo, o bilhete cheio está fixado em R$ 100,00 (meia a R$ 50,00).
A decisão de manter a precificação acentuou ainda mais o tom crítico de parte da torcida. “Deus que me livre e guarde, mas vamos jogar na altitude agora. Terça-feira, certo? Se não ganhar, vão nos complicar na Libertadores. Aí vão querer botar o ingresso a 70 reais. Meia, 35. No próximo jogo da Libertadores. Só quer botar barato, quando precisam da gente”, alertou o mesmo torcedor.
