Brasil

Árbitros enfrentam desafios na CBF

Em meio ao anúncio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sobre a futura profissionalização da arbitragem, surgem reflexões importantes entre os próprios profissionais do apito. Os árbitros, que convivem há anos com a pressão intensa, apontam que o movimento precisa ir além do vínculo empregatício.

Neuza Back, assistente FIFA que atuou em três Copas do Mundo, reconheceu: “Quando você opta pela profissão de árbitro de futebol, teoricamente tem consciência de que não vai ser a pessoa amada dentro do estádio”. A tensão natural entre a arbitragem e o público se agravou nos últimos anos, sobretudo após sucessivos erros e critérios confusos nas partidas, situação que resultou em trocas na comissão de arbitragem e na queda de prestígio dos profissionais.

A CBF, então, iniciou uma série de treinamentos e comprometeu-se a profissionalizar a categoria. Contudo, conforme os próprios árbitros destacam, a realidade é mais complexa. “Nós precisamos de uma estrutura ampla para que a gente consiga se manter. Primeiro fisicamente, porque a demanda física é igual à do atleta, para você acompanhar o jogo”, frisou Back.

Ela ainda acrescentou que, para atingir o nível exigido, seria essencial contar com fisioterapia, academia, campos de treino e preparação física especializada, semelhante às condições oferecidas aos jogadores de futebol.

Atualmente, a maior parte dos árbitros investe de forma independente em profissionais de nutrição, preparação física e fisioterapia. Entretanto, existe uma limitação evidente: a ausência de treinamentos práticos, essenciais para aprimorar decisões em tempo real durante partidas.

Ações da CBF

Com o objetivo de amenizar esse cenário, no início de abril, a CBF reuniu 72 árbitros e assistentes da Série A no Rio de Janeiro para uma imersão de quatro dias. As atividades incluíram exercícios físicos, análises teóricas de lances e simulações de partidas monitoradas por câmeras conectadas a uma cabine de VAR. Após cada simulação, os participantes receberam feedbacks detalhados sobre seus desempenhos.

“É fundamental a gente poder treinar com jogador, na prática. Porque a gente precisa também entender as táticas das equipes”, ressaltou Ramon Abatti Abel, escalado para atuar no próximo Mundial de Clubes.

Conforme o cronograma da CBF, novos treinamentos ocorrerão em junho, aproveitando a pausa do calendário nacional para o Mundial de Clubes. Entretanto, árbitros como Wilton Pereira Sampaio alertam para a necessidade de maior frequência.

“A gente tem que passar por isso de forma periódica. A cada mês ou 20 dias”, opinou. Segundo ele, a profissionalização deve ser acompanhada de suporte técnico, físico, psicológico e nutricional.

Rodrigo Cintra, coordenador-geral da comissão de arbitragem, explicou que a avaliação dos árbitros passou a ser feita individualmente, a partir de relatórios de observadores e dados de monitoramento. Como exemplo, citou a evolução de Anderson Daronco: “Ao longo de 30 dias ele eliminou 7kg de massa gorda, aumentou sua performance atlética e melhorou o rendimento mental”.

Enquanto isso, a crescente exposição pública das decisões dos árbitros exige cuidado adicional fora de campo. Para lidar com a pressão, Wilton Pereira Sampaio preferiu se afastar das redes sociais. Já Ramon Abatti e Neuza Back mantêm seus perfis, porém com filtros de interação ou bloqueios para críticas ofensivas.

“A gente precisa também cuidar da saúde mental”, pontuou Back, que, assim como seus colegas, conta com suporte psicológico particular.

Entretanto, a realidade da maioria dos árbitros brasileiros é distinta da elite. Muitos conciliam a arbitragem com outro trabalho, o que, segundo Back, pode ser prejudicado durante os períodos de treinamento. “Alguns acabam desfalcando esse trabalho. E isso gera um certo transtorno na vida profissional secundária deles”, relatou.

A CBF promete iniciar a profissionalização oficial até o fim de 2026, selecionando os primeiros árbitros e assistentes com base no desempenho ao longo dos próximos meses. O processo visa transformar a arbitragem nacional, mas, conforme os próprios protagonistas alertam, a iniciativa só será eficaz se vier acompanhada de investimentos contínuos em estrutura, capacitação e bem-estar dos profissionais.

Ana Teixeira

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